quinta-feira, 1 de abril de 2010

Os dias centrais na história da Humanidade

Com a chamada Quinta-feira Santa, hoje, começa o período das festividades pascais que se estende até ao próximo domingo. Estes quatro dias, para além de permitirem a muita gente ir de férias, representam os momentos decisivos na formação de uma religião, o Cristianismo, e de uma instituição com mais de dois milénios de existência, a Igreja Católica. Não há muitas instituições no mundo com mais de mil anos de vida - nem o Benfica. A Igreja de Roma tem mais de dois mil. Porque é que digo que estes dias, convidativos a uma fuga para as praias ou a uns retiros no campo, são centrais na história desses dois mil anos?
Jesus de Nazaré aparece no seu tempo como um salvador do povo judeu. Muitos o viram como um messias político, capaz de os libertar do colonialismo romano, das garras do império. Cedo perceberam que o discurso de Jesus não se coadunava com a batalha que era preciso travar. O povo ansiava um líder para enfrentar um imperador e Jesus falava de perdão, amor, de dar a outra face, de "dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Deixou de fazer sentido para eles, não era o que queriam. Porém, pese embora a rejeição, a mensagem de Cristo instalou-se, os apóstolos que escolhera deram-lhe seguimento e o Cristianismo chegou até aqui. Foi com a célebre distribuição do pão e do vinho na Última Ceia que se instituiu a Eucaristia, momento central na vida cristã, sacramento da presença de Cristo entre os seus seguidores. É essa última refeição antes da morte, perpetuada para sempre, que os católicos celebram hoje.
Depois, Jesus foi condenado e crucificado, com mais ou menos sangue que no filme de Mel Gibson, e foi sepultado, como qualquer homem, qualquer judeu castigado com a morte. Até aqui, pareceria uma vida decepcionante. O homem que vinha libertar a Judeia, ficou-se por uns discursos bonitos e profundos, umas acções espantosas e depois morreu de forma humilhante. Tudo isto é História, nada tem a ver com fé. Mas há um fenómeno que vem depois e que, esse sim, só pode ser aceite à luz da fé, como só à luz da fé faz sentido a celebração da Páscoa. A quem falte essa fé resta aproveitar as mini-férias o melhor que possa. Esse fenómeno é a Ressureição. É possível prová-la? O corpo de Jesus desapareceu mesmo do sepulcro? Como? Após a morte de Cristo, os seus homens mais próximos desapareceram todos e mantiveram-se longe durante muitos dias. Não foi só o medo de também serem perseguidos, foi também o desânimo que sentiram com a morte daquele em quem confiavam e de quem não esperavam aquele fim tão pouco heróico. No entanto, algo deve ter acontecido para, mais tarde, todos eles regressarem e voltarem a assumir a missão de falar por Jesus e de instituir a sua Igreja. Também eles acabaram por ser perseguidos, presos e mortos. Mas a Igreja que ergueram nunca mais cairia.
E muitos foram os problemas que a assolaram. Muitas foram as pessoas que no seu interior, ao longo dos séculos, estiveram longe da mensagem e das regras cristãs. As pessoas passaram, a mensagem e a instituição ficaram. Se a Igreja Católica foi fundada pelo Filho de Deus, agora ela é governada e constituída por homens. Assim, ela é imperfeita. As críticas e ataques que se fazem à Igreja são sempre provocados pelas acções dos homens que a formam, sejam eles clérigos ou leigos, e nunca pelos valores que a mensagem de Cristo inspira. Há uma certa falácia em atacar uma instituição pelas atitudes de pessoas que a integram, assumindo que essas pessoas deviam estar imunes ao erro e à fraqueza humanas. Hoje, a Igreja volta a viver momentos difíceis. Os casos de pedofilia envergonham-na, nada têm a ver com Jesus Cristo e, no entanto, são a pólvora perfeita para incendiar os ódios primários e a crítica fácil do todo pela parte. Já muito se disse sobre estas misérias dos nossos tempos, não me interessa emitir opinião para juntar às colecções. Mas há coisas que são dos homens, os homens devem resolvê-las. E, na Igreja, há coisas que são de Cristo e, das duas uma, ou os homens as assumem como tal ou então retiram-se. Poluir uma mensagem, que é afinal uma apologia do Amor e uma nova visão sobre o transcendente, com aberrações humanas é bem pior do que vomitar críticas sobre uma Igreja de que não sabemos nada ou uma Bíblia que nunca lemos. Tristemente, tanto uma como outra têm obreiros por todo o lado.

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