sábado, 23 de junho de 2018

Whatever

Vamos abordar o "wathever".
Sabem o que é ou...? “Whatever".
"Whatever", palavra inglesa, por todos nós açambarcada
Não há boca neste território que não a profira por tudo e por nada.
"Whatever", seja lá o que for, está na boca de qualquer estupor.
Diz-se "whatever" no final ou "whatever" no início
de qualquer frase mal enjorcada.
"Whatever" dá um ar "cool", "whatever" faz parecer bem
Ao menino dá-lhe um ar nórdico, à menina ar de enjoada
"Whatever" é assim mesmo, anglicismo enjoativo,
usado até ao exagero, usado sem nenhum motivo.
Sabes que estás só a misturar coisas estranhas
duas línguas diferentes num autêntico baralho
é o mesmo que um inglês dizer em suas conversas:
"I'm just kidding with you I'm just... ou o caralho"...

(Carlos Alves ou whatever, 23.06.2018)


quarta-feira, 20 de junho de 2018

Num Labirinto de Olhares Profundos

SANCTUARY
Criação de Brett Bailey
Co-produção Third World Bunfight e Maria Matos Teatro Municipal
Local: Estúdio 1 da Tobis, Lumiar 
Data: 19 de Junho, 20 horas

"Sanctuary" é uma curta viagem da qual não se sai com a respiração com que se entrou. Um labirinto opressivo, ladeado por grades e arame farpado, sujeitos a avisos - letras brancas e fundo azul, é a União Europeia a falar connosco. Um labirinto para estes novos Minotauros. A Europa é, hoje, e para os que a desejam alcançar, um espaço de "limbo" (é o próprio Brett Bailey quem o sugere) e é para esse limbo que somos atirados enquanto espectadores.
O confronto é olhos nos olhos com pessoas e as histórias delas que lemos, de cabeça baixa, enquanto somos observados o tempo inteiro. Desta vez, somos nós o foco da atenção, não eles. Os performers fixam-nos o tempo todo, até ao momento em que é difícil suportar o olhar. Enquanto nos ocupamos com outras coisas, a leitura de mensagens dispostas em ecrãs, eles continuam lá, a olhar-nos. No final, chega a ser incómodo virar as costas. Mas viramos as costas e seguimos. A instalação força o espectador a virar as costas ao problema. Que grandioso paralelismo!
As histórias de vida mas também a violência sexual, o lixo, a sujidade, o arame farpado, as roupas abandonadas ou perdidas, os coletes cor de laranja, as grades, os avisos de segurança e de proibição, o som das ondas do mar; está lá tudo.

Depois, o populismo, a xenofobia e o medo. Cruzamo-nos com o irracional antes de voltar à realidade (?)... antes de voltar à (nossa) outra realidade. A verdade dos que recusam mais pessoas dentro de umas fronteiras também existe, também está presente, também verte os seu olhar sobre nós.

A instalação do sul africano Brett Bailey coloca o espectador num ponto de alta sensibilidade. Atira-o para uma zona desconfortável, de barreiras, má iluminação, muitas ordens e muito desconhecido; depois, confronta-o com o silêncio dos outros; e ainda faz dele objecto de atenção. O performer é também um espectador do espectador. Este é o único que faz coisas, nomeadamente observa e lê. Os performers observam-no a fazer isso. É uma inversão violenta que deixa cada elemento do público (e cada elemento anda sozinho pelo espaço) ao sabor da descoberta.



Lisboa: Estúdio 1 da Tobis, no Lumiar, até 24 de Junho
Porto: Palácio dos Correios (Gabinete do Munícipe da Câmara Municipal) - 3º piso, de 2 a 6 de Julho

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Irving: de bobo a promotor de uma lady

Henry Irving (1838-1905) foi um actor britânico, durante a transição do século XIX para o século XX. Foi o primeiro actor a receber o título de Cavaleiro, em Inglaterra. Isso aconteceu em 1895.
Anos antes, estando a sua mulher, Florence, grávida do segundo filho, durante um passeio de carruagem, ela perguntou-lhe se ele pretendia continuar a ter essa profissão de palhaço para o resto da vida. Ele saiu da carruagem e nunca mais a viu.
No entanto, os dois não se divorciaram formalmente. Em 1895, quando Irving foi nomeado Cavaleiro, Florence passou a chamar-se a si própria de "Lady Florence".