quinta-feira, 1 de abril de 2010

Hoje é dia da mentira e os outros são todos da verdade?

1 de Abril - dia da mentira. É engraçada a importância que damos à mentira, ao ponto de lhe dedicarmos um dia. E utilizamos esse dia para dizer pequenas mentiras e pregar algumas partidas. É uma forma "legal" de fazer aquilo que na verdade sabemos não dever fazer. Mas a importância da mentira nas nossas vidas é tão grande que não só lhe dedicamos um dia como não conseguimos viver sem ela. Não vivemos sem mentir nem havemos de chegar ao fim dos nossos dias sem os ouvidos abarrotados de grandes aldrabices. Agora até vamos ter uma comissão de inquérito para apurar da mentira ou da verdade. Mentiu o primeiro-ministro ao Parlamento? Mentiu ele aos portugueses? Mentiu. E mais do que uma vez. Mas tantos outros primeiro-ministros de tantos outros países também o fizeram. George Bush até conseguiu mais. Mentindo aos seus governados, mentiu ao mundo inteiro e essa mentira teve realmente importância. Os iraquianos que o digam, e os afegãos também, e Durão Barroso, que também caiu na peta.

Publicidade. Mentira! Resposta simplista, mas a publicidade não pode ser verdadeira, não faria sentido gastar milhares de euros para transmitir uma verdade. Seria, contudo, arriscado gastá-los para dizer uma enorme mentira. Não, as marcas gastam dinheiro para exagerar uma verdade, disfarçar outra e omitir algumas coisas. Ora, o resultado não é uma mentira pegada mas também não é uma verdade verdadinha. De facto, não é fácil viver só da verdade.

No jornalismo. Sim, jornalismo e verdade. Tem de ser. O jornalismo, para mim que sou jornalista, quer-se a profissão da Verdade, a luta em nome da Verdade. Ainda acredito que assim seja. Mas não duvido que não seja só assim. Não é possível pegar num jornal e acreditar que está ali verdade. É essencial para a verdade mas o jornalismo não vive só com a verdade. Se mentir não é só apresentar argumentos falsos, mas é também enquadrar, omitir, subjectivar factos, então o jornalismo também não vive sem mentira.

No dia 1 de Abril preparo sempre uma aldrabice, só uma mas em larga escala, com um alvo abrangente. Nesta altura em que escrevo, a fantasia deste ano já está em marcha. Por isso não posso falar já disso. Aproveito então para me divertir com uma mentira que não vai ter consequências, espero. Amanhã se verá. Se fizesse aquilo que estou a fazer hoje ou o que fiz no ano passado num outro dia qualquer, perderia toda a credibilidade a partir daí. Como o faço a 1 de Abril, conto não a perder. Até porque o meu problema com a mentira é mesmo o medo de deixar de ser credível. Gosto que acreditem em mim quando digo alguma coisa. Mesmo que seja no primeiro dia de Abril.

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