sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Ditirambus leva a cena texto de Jaime Salazar Sampaio




UMA QUESTÃO DE TEMPO acontece num teatro, com um grupo de actores que nos levam aos meandros da sua criação. No entanto, essa "intrusão" vai conduzir-nos por caminhos que desconhecíamos e revelações com que não contávamos. Este espectáculo é um labirinto, de portas e janelas que não existem mas que, podemos supor, sempre lá estiveram. Mas pouca coisa aqui é real ou, pelo contrário, nada aqui é ficção.  

É um espectáculo em torno do tempo, de muitas formas e por muitas voltas, tantas quantas as voltas que o tempo dá. E é um espectáculo sobre Teatro. Sobre a vida no teatro e sobre o teatro na vida. As personagens movem-se descaradamente à procura de algo que ainda desconhecem, ignorando com mais descaramento ainda o espectador. Como se estivessem perante cadeiras vazias. Movem-se, protegendo para si o direito exclusivo de se movimentarem dentro de um teatro; elas movem-se, tentando desesperadamente justificar o seu ofício, a sua arte e a sua criação. Enquanto isso, debatem-se com a passagem do tempo, com os recuos à infância, a mulheres que estiveram ali mas já não estão; e confrontam-se com o fim que se aproxima, enquanto fazem o seu trabalho, à sua maneira, enquanto for possível. No limite, neste espectáculo, temos quatro actores à procura de um espectador.

Ficha Técnica:
Encenação: Carlos Alves
Elenco: Carlos Alves, Isadora Lima, Joana Lourenço, Marco Mascarenhas e Onivaldo Dutra
Espaço Cénico e Desenho de Luz: Carlos Alves
Movimento: Marco Mascarenhas
Cenografia e Figurinos: Joana Lourenço e Carlos Alves
Adereços: Rita Rodrigues
Sonoplastia: Carlos Alves
Operação de Iluminação: Rúben Silva
Operação de Som: Andreia Pinto/ Soraia Fernandes
Fotografia: Isadora Lima de Oliveira
Design Gráfico: Carlos Catarino
Produção Executiva: Carlos Alves e Joana Lourenço
Produção: Ditirambus

Casa do Coreto
Rua Neves Costa, 45,
1600-532 Carnide, Lisboa

1, 2 e 3 de Fevereiro
Sexta e Sábado, 21h30
Domingo, 17h

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

“Neste teatro é assim, e depois logo se vê”




Entrar neste texto de Jaime Salazar Sampaio é como enfiarmo-nos dentro de um labirinto, donde não se vislumbra uma saída. Cada caminho é interrompido por outros que nos atiram ainda para uns com que não contávamos. É uma viagem, de muitos modos, e também no tempo. O texto fala de tempo mesmo quando parece esquecer-se dele; fala de um teatro que quer questionar; ficciona a realidade, deixando-nos sempre na dúvida sobre em que pé estamos agora. Isto é mesmo a sério?
Fala de amores, férias de Verão, noites que podem ser as últimas, vidas difíceis cruzadas com sonhos lindos. Fala da vida. E do Teatro. Do Teatro na vida e da vida no Teatro. E de muito mais, “porque numa peça nunca se diz tudo”.
A questão de tempo está em tudo o que faz com que ele passe e no que ele deixa à sua passagem. Por outro lado, é sempre uma questão de tempo até que tudo se desvaneça ou não desvaneça, aconteça ou não aconteça. É a questão de tempo que nos afasta de uma gloriosa infância.
“O que é que ele quer que a gente faça com isto?” foi a questão que colocámos muitas vezes. Mobilizámo-nos então para entender e decidimos que seria mais ou menos assim, “com umas pequenas modificações, uns cortes, uns aditamentos”. Mas a nossa questão fundamental é o espectador. Que papel lhe atribuímos neste espectáculo, se é que lhe atribuímos algum? O papel do espectador, é esse o nosso problema. O dilema entre a passividade ou a emancipação, seguindo o conceito de Rancière. Será um espectador que apenas olha ou um que também compõe um espectáculo a partir dos elementos do espectáculo que tem à frente? O papel do espectador é um problema nosso e talvez possa ser o problema de todos os nossos espectadores.

Carlos Alves