quinta-feira, 22 de junho de 2017

Poema Revelado Por Uma Comuna

Se eu fosse poeta e a poesia fosse coisa vã
Narraria com palavras simples a profunda dor que em mim não há
Vejo os barcos a passar, alegra-me o orvalho da manhã
E, adulto crescido, recordando a sopa da mamã
Escrevo o que vejo e não sinto
(Porque sopa não se sente nem é bom tema para poetas)

Espalharia por toda a parte
Se poeta fosse um dia
As linhas da minha poesia

Dariam meus temas motivo de estudo
E análises feitas, não importa se bem ou mal,
Sairiam impressos e tudo
No enunciado do exame nacional
Sigilosamente preparado por uma comissão.
Tanto texto estudado, um que sai outro que não,
E meu poema guardado de forma tão soturna
Viria a ser revelado por uma comuna.

(Carlos Alves)




segunda-feira, 19 de junho de 2017

À Terceira, da Oficina para o Cabaret

A Oficina de Teatro do Turim vai já na sua terceira criação. Este mês é apresentado o terceiro espetáculo, interpretado pelos alunos da Oficina, dirigidos pelos atores Carlos Alves e Ana Campaniço.
"Nem Que Morra Duas Vezes" é a peça que estará em cena durante quatro dias, uma oportunidade para assistir ao trabalho deste grupo e à sua evolução.
Este é "um texto inédito e um espetáculo carregado de marcas expressionistas, transportadas para um registo de comédia negra, com a música e a dança a marcar o ritmo de um cabaret a descobrir e onde imergir", explicam os responsáveis pelo curso.
Com uma regularidade de sensivelmente três meses, os alunos da Oficina de Teatro do Turim apresentam ao público um espetáculo novo, fruto do trabalho feito em ambiente de aulas. "Nem Que Morra Duas Vezes" sucede a "Nós Não Somos Atores" e "Duelo de Vaidades" e pode ser visto entre 29 de junho e 2 de julho, no Teatro Turim, em Lisboa.


quinta-feira, 8 de junho de 2017

Nova Criação - "Nem Que Morra Duas Vezes"

As pulsões internas do Ser Humano expostas entre a luz ténue e as sombras de um cabaret. Um cabaret das necessidades, onde se vai para as satisfazer mas donde nunca se sai saciado. Sexo, prazer, religião, um pequeno e reservado mundo de instintos e a possibilidade de uma história de amor que nasça tão improvável quanto sentida.

"Nem Que Morra Duas Vezes" é o nova criação da Oficina de Teatro do Turim, com direção de Carlos Alves e Ana Campaniço.

Um texto inédito e um espetáculo carregado de marcas expressionistas, transportadas para um registo de comédia negra, com a música e a dança a marcar o ritmo de um cabaret a descobrir e onde imergir.

Apresentações nos dias 29, 30 de junho e 1 de julho às 21h30 e no dia 2 de julho às 17 horas, no Teatro Turim.


Nunca Fala a Marta

Quem ainda hoje não se recorda da Marta, da OK Teleseguros? “OK Teleseguros, fala a Marta!”. Esta frase foi repetida, recomida, refundida até já dar arrepios de vómito iminente só de ouvi-la. A Marta foi uma estrela do atendimento telefónico. No fundo, a Marta trouxe aos call centers o glamour que eles nunca tiveram. Se o não tinham na altura em que a esbelta Marta apareceu, com um sorriso de anúncio a pasta de dentes como quem quer vender seguros automóvel, muito menos o têm agora. Os call centers são e serão sempre a antecâmara do inferno laboral. Permanecem a antecâmara porque o inferno propriamente dito foi extinto na gloriosa época em que se aboliu a escravatura nas sociedades civilizadas. Se muita gente decidiu ir estudar Comunicação Social só porque achava graça ao José Rodrigues dos Santos a piscar o olho no fim do telejornal, não acredito que alguém tenha aceitado um emprego num call center apenas inspirado pelo sorriso da Marta. Na verdade, as pessoas vão para call centers quando mais nada resta. E uma sociedade que deixa um lote da sua população entregue a um bando de supervisores com ar de quem manda alguma coisa dentro de um escritório, não merece mais do que ter de ouvir o hino da SIC cantado em loop por uma tuna e um rancho folclórico.


Os supervisores de call center são, porventura, dos seres humanos menos interessantes que o planeta Terra já acolheu. Apesar disso, são a prova viva de que para ser parvo não é preciso estudar. Um pequeno cargo de meia chefia entregue a pessoas para quem atender o telefone sem se esquecer de dizer “bom dia” já seria uma vitória, é coisa que pode subir muito rapidamente à cabeça. Depois, ter um grupo de pessoas ali disponível e chamar-lhe “equipa”, isso então deve ser orgásmico.
Nada disto tem a ver com a Marta. A Marta de qualquer call center não consegue aquele sorriso, apresenta uma cara a quatro cirurgias plásticas daquilo e tem um supervisor com bazófia a mais para estatuto a menos. Tal como aconteceu aos que foram estudar Comunicação sem serem capazes sequer de escrever um postal à família, o mundo imaginado não estava lá para existir. E o mundo de muitos dos que foram estudar Comunicação antes de alguma vez terem pegado num jornal, acabou num call center. Não faz mal, um dia hão-de dar a volta. Agora, se já chegaram a supervisores, não há volta a dar. Daí já não passam. Mas podem sempre dizer aos amigos que têm uma “equipa”. E fazê-lo com aquela entoação de quem tem alguma relevância social. A entoação talvez consigam, a relevância já não.


Ronda das Artes Síntese (Edição nº 3, de 7 de junho)

Ronda das Artes - Edição de 7 de junho

Síntese semanal:

  • Cinema: sessão de curtas-metragens na Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema
  • Teatro: FITEI, "E Se Fosse... Absurdo?!" no Teatro Bocage (produção: Ditirambus) e "Cabaret do Coxo" no Teatro Turim (produção: ContraTempo Produções)
  • Música: novos discos de Sebastião Antunes e de Luiz Caracol



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quarta-feira, 7 de junho de 2017

Três curtas-metragens a descobrir na Cinemateca

A Cinemateca apresenta amanhã, às 21h30, três curtas-metragens portuguesas. "Realidade Paralela" (na imagem), "Despertar" e "Esboços".
Estes três filmes fazem parte do portefólio de produções do Cineclube Cine-Reactor 24i e foram dirigidos por três jovens realizadores.
Os elencos dos três filmes contam, entre outros, com João Didelet, Alda Gomes, Sofia Nicholson, Sofia Arruda, Érica Rodrigues e Carlos Alves.


quinta-feira, 1 de junho de 2017

Ditirambus apresenta novo espetáculo de Marco Mascarenhas em Lisboa

Sobe hoje ao palco do Teatro Bocage, em Lisboa, um novo espetáculo de que já aqui dei conta. "E Se Fosse... Absurdo?!" é uma criação do ator e encenador Marco Mascarenhas, que conta ainda com Onivaldo Dutra e Manuela Gomes no elenco.
Esta é uma peça sobre atores, protagonizada por três atores com muita experiência, que se junta ao portefólio da companhia teatral Ditirambus.
A Ditirambus foi fundada em 1996 e, desde aí, executa um trabalho de produção e pesquisa teatral, formação de gerações mais jovens e ainda de intervenção social através da arte.
O pano abre hoje às 21h30.


Noite de Karaoke

Há sempre uma noite
Em que te sentes uma estrela de rock
Em que aplaudem a tua desgraça
Na noite de karaoke.

Cantas desalmada por três minutos sem fim
Deixas-me de rastos
E tu sem pena de mim
Desfias Represas e João Pedro Pais
Tu não sentes mas sim, isto está a ser demais.
Antes fizesses playback, diria Carlos Paião
Que, talvez por prever isto, quis morrer no alcatrão.
Cantas com muita paixão mas muito à tua maneira
Sabes canções dos Clã, estragas as do Dino Meira
Se há uma nota certeira que mereça ovação
Há dezenas de outras elas que nos quebram a tensão
Fazes do palco uma montra da tua beleza atroz
Seguras no microfone como se tivesses voz
Para cantar a Simone devias esperar que ela morresse
Como se ela merecesse ver-se tão mal cantada…
Mas um filho faz-se por gosto é coisa que nunca te sai afinada.

A Júlia fez anos ontem
Meia vida celebrada
Já são quase trinta anos e de aprendizagem nada
Saiu com os amigos para festejar a data
Vestiu a saia mais curta
Que encontrou entre os seus trapos
E pintou os olhos com força
Parecia ter levado dois sopapos
Apresentou-se esbelta frente ao animador
Entregou-lhe o papelinho com o nome de um cantor
O que vai cantar a Júlia, queremos saber
Seja o que for, é certo que vai doer
Cantar fado da Mariza com roupas à Madonna
Puxar notas lá do alto e ao mesmo tempo mostrar a…
Zona de karaoke devia estar circunscrita
Devia ter um aviso: “Se te sentires mal, grita”
Não é falta de juízo o que vos faz ser cantores
E transformar qualquer bar numa casa de horrores
Para cantar karaoke defines o teu perfil
Cantas bem ou cantas mal
Fazes daquilo uma luta
Podes sempre optar por pôr o teu ar de puta.
E no fim daquela noite
O povo está todo zonzo
Mas quem mais sofreu ali
Foram as canções do Paulo Gonzo.

(Carlos Alves)