Sim, sou um aficcionado da obra de Eça de Queirós. Sim, considero Os Maias um dos grandes livros da minha vida - embora Os Maias seja a resposta pronta de quem não lê muito quando interrogado sobre livros, no meu caso não tenho medo de dar essa resposta. Sim, o meu exame final de Português do 12º ano foi sobre Os Maias. E, sim, sou capaz de reler com prazer todos os livros do Eça de Queirós. Desde a super história de Carlos da Maia e Maria Eduarda até à Cidade e as Serras, este menos corrosivo mas com um humor de grande nível e subtileza. E, claro, A Relíquia. Uma história notável, arrasadora da hipocrisia social e dos brandos costumes, que são afinal mais fundamentalistas do que brandos. Com A Relíquia, Eça não cria uma grande história, como faz nos Maias. Apresenta, pelo contrário, uma caminhada patética como patéticos são os seus intervenientes. E são os defeitos dessas pesonagens que as guiam para uma grande aventura. É uma viagem de fanatismo, mentira, hipocrisia, reveladora de instintos primários sufocados por uma capa social e religiosa, tão frágil quanto superficial. Olhamos para eles e rimo-nos, mas não teremos algures nas nossas vidas comportamentos e atitudes assim? É esta a força do humor queirosiano. As alegrias e as tragédias das personagens são provocadas por elas próprias, por aquilo que elas têm de condenável. São tipos sociais, dão a cara pelo ridículo de toda uma sociedade, de todo um país.
É esta obra que agora é levada à cena pelo Teatro Ibérico, numa adaptação de Filomena Oliveira e encenação de Onivaldo Dutra. A Relíquia transportada para o palco resulta numa comédia divertidíssima e numa sucessão de acontecimentos absolutamente delirante. São as vicissitudes de quem finge um papel que não é o seu e sobre quem a verdade pode desabar a qualquer momento como um estrondo e destruir todos os planos e ambições. E está lá tudo retratado, a fé de uma irracionalidade desmedida, o aproveitamento dessa fé para todos e quaisquer proveitos, a hipocrisia de não ser o que se parece e querer parecer o que não se é. A mentira, a traição, a ignorância e o desfile dos anseios mais primários estão todos lá e só estão porque Eça os decalcou da sociedade. E a sociedade, mudou muito desde o século XIX? Vale a pena pensar nisso ao assistir a este espectáculo. E o chico-espertismo não é uma moda do Portugal moderno? Se é, podemos bem olhar-nos ao espelho ao ver A Relíquia.
Os responsáveis por este espectáculo quiseram ser fiéis não só ao espírito da obra como também ao da época, com as dificuldades que isso traz, ainda para mais a uma produção independente. Quando não é possível ter a ambiência do século XIX ali toda em cima do palco, criou-se um simbolismo que a define.
Já agora, e porque esta reflexão foi feita em nome pessoal e independentemente das tentativas de promover o espectáculo - nas quais me empenharei nos próximos tempos, por considerar que o público que gosta de teatro, o que gosta de Eça de Queirós, o que gosta de cultura, merecem conhecer esta peça e devem vê-la - menciono aqui cada um dos elementos da equipa da Relíquia, com os quais tenho a alegria de poder trabalhar neste projecto que muito acarinho: Onivaldo Dutra - encenador; Marco Mascarenhas - director artístico do Teatro Ibérico; os colegas actores - Manuela Gomes, Naná Rebelo, Miguel Ferraria, Pedro Conde, Tânia Alves, João Almeida, Carlos Catarino e Sérgio Coragem; os técnicos de luz e som - Rita Almeida, Mário Inácio e Céu Neves; e o figurinista Paulo Miranda. E também todos os que de uma forma ou de outra deram e dão o seu apoio na realização desta aventura. Um forte abraço para todos! Vamos trabalhar! O público aguarda-nos.
É esta obra que agora é levada à cena pelo Teatro Ibérico, numa adaptação de Filomena Oliveira e encenação de Onivaldo Dutra. A Relíquia transportada para o palco resulta numa comédia divertidíssima e numa sucessão de acontecimentos absolutamente delirante. São as vicissitudes de quem finge um papel que não é o seu e sobre quem a verdade pode desabar a qualquer momento como um estrondo e destruir todos os planos e ambições. E está lá tudo retratado, a fé de uma irracionalidade desmedida, o aproveitamento dessa fé para todos e quaisquer proveitos, a hipocrisia de não ser o que se parece e querer parecer o que não se é. A mentira, a traição, a ignorância e o desfile dos anseios mais primários estão todos lá e só estão porque Eça os decalcou da sociedade. E a sociedade, mudou muito desde o século XIX? Vale a pena pensar nisso ao assistir a este espectáculo. E o chico-espertismo não é uma moda do Portugal moderno? Se é, podemos bem olhar-nos ao espelho ao ver A Relíquia.
Os responsáveis por este espectáculo quiseram ser fiéis não só ao espírito da obra como também ao da época, com as dificuldades que isso traz, ainda para mais a uma produção independente. Quando não é possível ter a ambiência do século XIX ali toda em cima do palco, criou-se um simbolismo que a define.
Já agora, e porque esta reflexão foi feita em nome pessoal e independentemente das tentativas de promover o espectáculo - nas quais me empenharei nos próximos tempos, por considerar que o público que gosta de teatro, o que gosta de Eça de Queirós, o que gosta de cultura, merecem conhecer esta peça e devem vê-la - menciono aqui cada um dos elementos da equipa da Relíquia, com os quais tenho a alegria de poder trabalhar neste projecto que muito acarinho: Onivaldo Dutra - encenador; Marco Mascarenhas - director artístico do Teatro Ibérico; os colegas actores - Manuela Gomes, Naná Rebelo, Miguel Ferraria, Pedro Conde, Tânia Alves, João Almeida, Carlos Catarino e Sérgio Coragem; os técnicos de luz e som - Rita Almeida, Mário Inácio e Céu Neves; e o figurinista Paulo Miranda. E também todos os que de uma forma ou de outra deram e dão o seu apoio na realização desta aventura. Um forte abraço para todos! Vamos trabalhar! O público aguarda-nos.
Já assisti ao espectáculo... Está realmente fantástico... Parabéns para a equipa de artistas...
ResponderEliminarMuito obrigado, também em nome dos meus colegas. Ficamos contentes por ter apreciado o nosso trabalho. Lamento não saber com quem estou a falar, já que aparece como anónimo (não sei se por opção ou por erro), mas agradeço o elogio e prometo continuar a informar sobre as novas produções do Teatro Ibérico neste blogue. Em breve haverá novidades, de resto.
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