domingo, 2 de agosto de 2009

A Verdade e só a Verdade



"Um erro como invadir a Rússia no Inverno"


A Verdade e só a Verdade (Nothing but the Truth, no original) é um filme sobre uma jornalista presa por se recusar a revelar uma fonte. A trama torna-se sobremaneira complexa a partir do momento em que o "furo" que a repórter publicou atinge a Segurança Nacional dos EUA, através da divulgação da identidade de uma agente secreta da CIA. A jornalista não quer quebrar uma questão de princípio, os serviços secretos pretendem conhecer o "traidor" e puni-lo. Todo o filme está assente nesta dialéctica sigilo profissional do jornalista/ Defesa do Estado. Porém, vai mais além. Reflecte perfeitamente o que pode acontecer quando o Estado deixa de olhar a meios em nome da sua própria Segurança e a facilidade com que os direitos e garantias sucumbem a uma ameaça à Defesa da Nação. Mas, mais ainda, a película chama a atenção para o perigo que esse corte na liberdade pode representar. Perante a ameaça que a notícia publicada gera, os serviços de segurança podiam investigar quem andou a trair a organização. Mas preferiram prender o repórter, prender quem fala em nome do interesse público (e o interesse jornalístico neste caso reside no facto de o marido da agente da CIA denunciada ser um dos principais opositores ao governo para o qual ela trabalha). Uma atitude que pode ser cara aos sistemas democráticos e que nas palavras de uma das personagens, não é um erro como vestir de vermelho num funeral, é um erro como invadir a Rússia no Inverno. Pode bem ser um tiro no pé.

Num dos melhores momentos do filme, um advogado faz um discurso em que chama a atenção para duas questões fundamentais na actividade dos jornalistas. A primeira tem a ver com o sigilo. O advogado argumenta que nunca ninguém mais informaria a repórter se desta vez ela quebrasse o segredo. O segundo aspecto respeita à atitude do Poder com a comunicação social, sendo esta um meio de denúncia e controlo do próprio Poder. Quem iria questionar o governo em nome do Povo, quem iria denunciar situações de corrupção ou de mau aproveitamento do aparelho do Estado se os jornalistas fossem presos quando o fizessem?

A Verdade e só a Verdade consegue uma trama coerente e capaz de trazer a lume um conjunto de questões sem nunca assumir um tom fabuloso. É um caso ficcional apresentado com enorme realismo, algo que se mantém do princípio ao fim. Vemos muitas vezes histórias baseadas em factos reais com mais fugas para a fantasia do que esta. Uma grande interpretação de Kate Beckinsale. E um filme que surpreende pela inteligência com que narra uma história que não é mas podia ser verdade e só verdade.

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