segunda-feira, 27 de julho de 2009

Bruno e a ambição de chocar


Aquilo que primariamente se espera de "Bruno" é assistir às loucuras e provocações de um actor - Sacha Baron Cohen - ao serviço de uma personagem. Contudo, o trabalho de Cohen explora, pela provocação, os sentimentos e preconceitos mais genuínos da sociedade americana. Isso aconteceu com Borat e com Ali G. Em "Bruno", esse objectivo é cumprido em muitos momentos do filme, sem dúvida. Mas noutros, fica muito aquém e aí tudo se resume a uma exibição de risco e exploração da surpresa alheia.
A cena no ringue de luta, as conversas com os pastores religiosos são um bom exemplo em que o trabalho interventivo de Baron Cohen é conseguido. A sequência nocturna com os caçadores, a outra na produtora de televisão com um júri que analisa uma proposta de programa de Bruno são alguns exemplos opostos.
Em ambos os casos somos guiados por uma personagem com uma personalidade e propósitos bem vincados. A diferença é que nos primeiros casos, a sua actuação desperta reacções noutras pessoas, que as revelam. Nos segundos exemplos, o trabalho do actor não consegue despoletar nada e aí ficamos a assistir a uma contracena de uma personagem inquietante com pessoas comuns e nada mais. Pode ser mais ou menos engraçado, mas não é melhor do que qualquer comédia ligeira.
O resultado global é uma história com um fio condutor bem orientado, um excelente trabalho de interpretação e bons momentos de pura adrenalina cómica. Com um pouco menos de rendição ao espectáculo puro e duro, "Bruno" seria uma obra mais genial e mais cinematográfica também.
Há, ainda assim, lugar a algumas pequenas pérolas ao longo do filme que merecem ser descobertas por quem o quiser ver. Vale a pena.

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