domingo, 15 de maio de 2011

O Último a Servir



O programa da RTP "O Último a Sair" estreou no domingo passado e já motivou dezenas de queixas tanto ao Provedor da estação como à Entidade Reguladora para a Comunicação. Queixam-se os telespectadores de que o formato do programa não encaixa no cumprimento de serviço público.
Vamos ver, então. "O Último a Sair" é um programa de humor. E se há coisa em que a RTP às vezes dá um ar da sua graça é nos programas de amor que emite. Portanto, um programa de humor não cabe no conceito de serviço público? A BBC diria que sim, e com bons resultados.
Além disso, o programa promove uma visão crítica sobre a própria televisão actual e, nomeadamente, sobre a reality TV. Não pode o Serviço Público fazer isso?
Então vamos lá ver o que é realmente serviço público feito pela RTP e que não incomoda os telespectadores.
Programas extremamente barulhentos em que pessoas têm que adivinhar preços de coisas, no meio de alheiras, chouriças, presuntos, garrafas de vinho e sabe-se lá que mais oferecidos ao apresentador. Entra bem como serviço público?
Um horário nobre preenchido com concursos que na verdade não enriquecem ninguém, nem material nem intelectualmente. Entra bem como serviço público?
Noticiários exactamente iguais aos das estações privadas, quando acontece não serem mais fracos. Entram bem como serviço público?
Filmes de acção norte-americanos dos anos 90, com Steven Seagal e outros que tais, que toda a gente já viu ou, se não viu, é porque não quer ver, em horário nobre. Entram bem como serviço público?
E, já agora, apostemos na comparação. O que é que "Quem Tramou Peter Pan?", programa de Catarina Furtado e mais uns miúdos, tem de serviço público que "O Último a Sair" não tenha? Eu tenho uma resposta. Não sei se é certa, mas eu também não sou Provedor nem trabalho na ERC. O programa dos miúdos não chateia ninguém. É bom para amorfos. Nada melhor do que estar no sofá e ver o riso das crianças dos outros na televisão sem que nada nos afecte.
Já um programa de humor tende a dizer alguma coisa, a tocar em alguns sacrários ou em simplesmente reproduzir aqueles que não tocam em nada e com isso mostrar a sua insignificância. Os telespectadores não gostam disso. Não gostam que lhes digam que têm andado a ver porcaria, e quando lhes mostram a porcaria que têm andado a ver ficam chateados e acham que não têm de pagar isso.
Se chorassem mais o dinheiro que é gasto em coisas intragáveis, sem qualidade nenhuma e que envergonhariam qualquer televisão da Europa, talvez tivessem menos ressabiamento agora e estivessem mais preparados para distinguir entre qualidade e o que lhes têm servido.
Os telespectadores não têm culpa. Eles só clamam por um serviço público. Mas será que eles sabem o que isso é? É que nunca ninguém lhes mostrou bem.

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