domingo, 12 de setembro de 2010

Setembro

Tenho uma paixão pelo mês de Setembro. É rigorosamente uma paixão, porque os sintomas são exactamente os mesmos que se sentem quando estamos apaixonados, por alguém, não por um mês. Mas eu também me apaixono por meses. E Setembro tem, para mim, uma magia especial; e eu trocava o mês de Fevereiro, que é coxo, inútil e ainda por cima tem o Carnaval, por mais um como Setembro. Mas aos calcanhares de Setembro só talvez Dezembro seja capaz de chegar, ainda assim de uma forma muito diferente. Eu não estou nem nunca estive apaixonado por Dezembro. Tenho quando muito uma amizade colorida, talvez potenciada pelas luzinhas de Natal.

Mas Setembro é diferente. Sentimo-nos esvaziar, a nós e aos outros, da pitoresca e estupidificante euforia do mês de Agosto, que, aliás, começa a provocar tonturas logo a partir de Julho (dois meses pelos quais nunca me apaixonaria). Setembro devolve doses de sensatez à alegria do Verão. Por outro lado, é o mês das coisas novas. Em Setembro começa sempre um novo ciclo. É verdade que é a passagem de ano que celebramos com pompa e circunstância, convictos do "ano novo, vida nova" que sabemos que não é assim. Janeiro chega e não traz mudança nenhuma. Quando muito, em Janeiro, aumentam os preços e os impostos. Mas nós, com um governo socialista, podemos ter aumento de impostos a qualquer altura, pelo que já nem essa tradição se mantém. Em última análise, dir-se-ia que até Janeiro é uma vítima de governos socialistas. Porque, de facto, ficou sem nada para mostrar. Apanha meio mundo (ou mais) alcoolizado, instala-se e quando damos por ele voltamos à nossa vida normal, aos nossos projectos que já vêm do ano passado e, afinal, não se iniciou nenhum ciclo, só tivemos que comprar um calendário e uma agenda novos.

Com Setembro é outra coisa. Porque a nossa sociedade gere o ano em função do Verão. Não vale a pena fingir. Festeja a chegada do novo ano mas é no Verão que está sempre a pensar. Portanto, é depois do Verão que tudo começa ou recomeça. Então, o ciclo abre-se em Setembro. A conclusão é esta. É ao nono mês do ano que o ano começa para nós. É em Setembro que pensamos quando em Janeiro falamos de vida nova.

Está assim explicada a minha predilecção por este mês. Mas não é só. Setembro está impregnado de nostalgia. É normal. Porque muitos momentos importantes da nossa vida aconteceram ou começaram a acontecer em Setembro. Não pensamos nisso. Mas sentimo-lo... quando Setembro vem.

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