No podcast do teatroàfaca, uma conversa sobre o texto para cena PORTUGAL (autoria: Carlos Alves, 2023). O texto teve leitura encenada, no dia 1 de Junho de 2024, no Avenidas - Um teatro em cada bairro, por Afonso Molinar, Maria Jorge, José Leite e Rita Silvestre.
Este texto foi criado no âmbito dos Encontros de Dramaturgia com Patrícia Portela, promovidos por Mickael de Oliveira no Teatro Oficina, em Guimarães, ao longo de 2023.
Ele é resultado de uma pesquisa feita em torno das mitologias nacionais e de várias ideias de patriotismo e nacionalismo. A obra de Alexandre Herculano, nomeadamente a sua História de Portugal e consequentes polémicas documentadas, o livro O Meu País de Maria Filomena Mónica e o ensaio Pessimismo Nacional de Manuel Laranjeira foram textos muito relevantes no processo de investigação. À literatura acresceu um conjunto de conversas com várias pessoas sobre as suas visões do patriotismo e da ideia que têm de Nação e de Pátria.
A identidade nacional e as ficções a ela associadas são o mote para a construcção desta nova ficção. A estruturação formal em cinco actos e um epílogo, o Coro, as características atribuídas às personagens são elementos que procuram levar a peça para um anacronismo forçado. É dessa visão anacrónica sobre um país, a sua dramaturgia (mais ou menos existente) e as suas mitologias que parto. Reconheço os riscos de escrever sobre sentimentos irracionais, e temo que patriotismo seja um dos mais representativos desse tipo de sentimentos. Talvez este texto e este espectáculo possam desiludir quem dele esperar uma exaltação da pátria portuguesa ou possam ferir quem acha que não se brinca com sentimentos tão nobres.
Aqui, as ideias de identidade nacional reportam muito mais ao passado do que ao futuro. Elas estão alicerçadas numa história mais ou menos lendária, mais ou menos heróica; mas o futuro é sempre de incerteza, de medo e de nevoeiro. “Enquanto se espera o dia último, ninguém deve dizer que nenhum país foi feliz. O início, a existência e a morte de qualquer um foi, é e será sempre apenas uma ficção. Assim também Portugal” (excerto do texto).