sexta-feira, 30 de março de 2012

Nativos Digitais - Compreender os media é educar para a cidadania

Nativos Digitais é um programa da RTP 2 sobre media, jornalismo e tecnologias da comunicação social. Para quem estudou jornalismo, o programa não tem novidade nenhuma e é até bastante básico na abordagem dos temas. Porém, a maioria da população não estudou jornalismo e, para esses, o que é dito naquele programa não é assim tão senso comum, é, aliás, essencial para compreender o mundo da produção e difusão de informação no mundo contemporâneo.
Esta é, de resto, a grande qualidade do Nativos Digitais. É um programa que fala de jornalismo e comunicação social de uma forma que todos percebem e mostra coisas em que o público não pensa habitualmente, mas que nem por isso devem ser ignoradas.
A RTP 2 presta um verdadeiro serviço público com este programa e está a contribuir para uma educação para os media, que é, no fundo, uma educação para a cidadania.

Por tudo isto, recomendo a página do programa no Facebook, em http://www.facebook.com/nativosdigitais.
O programa é transmitido às terças, às 19h45 e repete de madrugada.


Mensagem para o Dia Mundial do Teatro 2012

Partilho aqui a Mensagem para o Dia Mundial do Teatro. Anualmente, o Instituto Internacional de Teatro da UNESCO, convida alguém ligado a esta arte para escrever essa mensagem. Este ano, a tarefa coube a John Malkovich, que disse assim:

"Que o vosso trabalho seja convincente e genuíno. Que seja profundo, tocante, comunicativo e incomparável. Que nos ajude a refletir sobre a questão do que significa ser humano e que essa reflexão seja conduzida pelo coração, pela sinceridade e pela bondade. Que superem a adversidade, a censura e a escassez algo que, na verdade, muitos de vocês são forçados a confrontar. Que sejam abençoados com talento e rigor necessários para ensinarem, em toda a sua complexidade, as causas pelas quais deve bater o coração Humano, tendo em conta a humildade e a curiosidade para fazer dessa tarefa a obra da vossa vida. E que seja o vosso melhor – porque o melhor que derem, mesmo assim, só acontecerá nos momentos únicos e efémeros – Em consonância com a pergunta mais elementar de todas:
“Porque vivemos?”
Merda!!!"

segunda-feira, 26 de março de 2012

O FRIO QUE FAZ NA CAMA conquista Sete Nomeações em Festival Internacional

A peça "O Frio que Faz na Cama" (produção da Ditirambus - Associação Cultural e Pesquisa Teatral) obteve sete nomeações no Festival Internacional de Teatro de Vila Nova de Gaia:

- Melhor Peça;
- Melhor Encenador (Marco Mascarenhas);
- Melhor Ator (Carlos Alves);
- Melhor Atriz (Célia Figueira);
- Melhor Iluminação (Tiago Fonseca);
- Melhor Cenário (Marco Mascarenhas);
- Melhor Guarda-Roupa.


quarta-feira, 21 de março de 2012

Pessoas Que Não Me Servem

Pessoas que dizem "Vamos indo"
Pessoas para quem tudo é ruim
A chuva, a seca, o Benfica
Tudo é desgosto e nada está bem assim.
Pessoas que sabem quem fica
Que dizem que o autocarro não vem
Que veem sorte em toda a gente
Só a elas nada corre bem.
Que têm um ar doente
O leite está frio, o café quente
Sabem sempre quem saiu
E não lhes escapa alguém que entre.

São pessoas que não me servem
E a culpa não é minha
Mas de facto não me servem
Nem que lhes façam bainha.

Aturar estas pessoas
É penitência cristã.
São pessoas que veem o mundo
Pelo Correio da Manhã
Ou pessoas que ofendem, insultam
E coisas que tais
Tratam-te abaixo de cão
Por não gostares de animais.
Se na honestidade cais e vens a ser menos sensato
Vais meter-te em sarilhos
Elas vivem para o gato!
Mas jamais teriam filhos.

São pessoas como estas
Que não me servem para nada
Mas que me fizeram escrever
Esta coisa apalermada.

21-03-2012

terça-feira, 20 de março de 2012

Personagem Tó, em O Frio que Faz na Cama


Peça "O Frio que Faz na Cama", de António Manuel Revez; Encenação de Marco Mascarenhas. Produção: Ditirambus (2011)

segunda-feira, 19 de março de 2012

SIC 20 anos - Companheiros de Crescimento

"SIC 20 Anos - Crescemos Juntos" é o claim atual da estação de Carnaxide. Mas quem são estes que cresceram junto com a SIC? Na verdade, tendo esta 20 anos, só duas gerações o podem ter sido. Calculamos que sejam as gerações de 80, que rondavam os 10 anos aquando do nascimento do canal, e a geração de 70, que estaria, nessa altura, entre os 15 e os 20. Os mais velhos do que isso já estavam bem crescidos em 1992.
Não será, pois, abuso considerar que a mensagem da estação está agora dirigida às atuais faixas dos 24 - 39. Talvez seja. Abuso. Mas, dada a sub-representação da população mais idosa nos painéis da GFK, posso ver aqui uma já desistência desse público. Esses não vão ser contados, por isso vamos engraxar os mais novinhos.

Poderá ser uma explicação do tal claim mas não sabemos se é. Provavelmente não. Até porque a programação não indica o mesmo. O combate das manhãs e das tardes com os outros concorrentes mantém-se. A novela da Globo, agora com menos vigor nas audiências e remetida para mais tarde do que no tempo em que "crescíamos com a SIC"; mas a novela portuguesa a assumir a posição, com menos produções ainda do que a TVI mas com mais intensidade na violência e na depressão. Seguindo a tradição da premiada "Laços de Sangue", "Rosa Fogo" tem os seus vilões cuja propensão para a violência pode sempre ir mais longe, dependendo do número de episódios que ainda houver.
Para enfrentar o arrombo provocado pelo "A Tua Cara Não Me É Estranha", chega para semana o "Ídolos". Vamos ver como corre, porque "Ganha Num Minuto" não estava (nem podia) mesmo dar.
De resto, foi preciso esperar 20 anos para ter um programa como o "Gosto Disto"! Mentira. É dos formatos mais batidos em televisão. Vídeos caseiros e engraçados e... é só isso. É claro que este tem os Homens da Luta e o César Mourão. Ambos, à sua maneira, imprimem alguma mais valia a um formato que é terra queimada (mas tem sempre sucesso!) e isso é bom.


Isto agora é daqui para melhor e lamentamos que a teoria do primeiro parágrafo não seja verdadeira. Apesar de tudo, uma diversificação do público-alvo traria diversidade ao panorama audiovisual. Mas isso é estúpido, porque as televisões estão em concorrência direta, pelo que o público que querem é o mesmo. Só na cabeça do autor deste texto é que isto é passível de ser verbalizado. Não, vamos continuar a crescer juntos mas sem grandes alterações hormonais.

sexta-feira, 9 de março de 2012

RTP 55 Anos - Memória e Incerteza

A RTP está a comemorar os seus 55 anos, num período de incerteza quanto ao futuro. A história da televisão pública ainda é em grande parte a história da televisão em Portugal e a matriz do serviço público de audiovisual europeu. A falada e possível privatização de um canal público poderá representar uma transformação histórica na forma como Portugal vê o papel da televisão.
A RTP chega aos 55 anos com uma longa evolução e uma memória extensa. Uma evolução ao nível da tecnologia e da adaptação às novas plataformas e um passado cheia de boas referências e algumas inutilidades também.

No momento atual, a estação reage bem à incerteza do futuro. Continua a merecer a confiança do público, sofre com o novo sistema de audiências mas tem um selo de confiança e tem apostado em formatos e numa programação ao nível dos melhores momentos da sua história (e se também teve momentos maus...). Ao nível da informação, a Grande Entrevista e o novo Sexta às 9 são formatos muito positivos, do melhor que se faz na televisão em sinal aberto. No humor, mantém-se como a garantia de qualidade. O Último a Sair e Estado de Graça são referências muito positivas no portefólio recente do canal. No entretenimento, Herman José, Nicolau Breyner e a já anunciada transição de 5 para a Meia Noite para a RTP1 são exemplos de vitalidade e diversidade. No que toca à ficção, a produção é regrada mas com produtos que fazem a diferença. Liberdade XXI, Pai à Força e Velhos Amigos, bem como alguns telefilmes recentes, servem para o demonstrar.
No que toca ao cinema emitido, tem havido melhorias significativas desde o início deste ano.
É claro que há ainda coisas a estragar a fotografia. Chamar-lhe-ia emplastros neste retrato. Mas do Preço Certo e outros que tais já não tenho muito mais a dizer.

Sobra que estes 55 anos chegam com uma RTP viva, com qualidade, diferente dos privados e com os lucros a crescer (18,9 milhões de euros em 2011, mais 26% do que em 2010). O Serviço Público há-de ser sempre discutido e nunca se há-de chegar lá, embora não seja difícil perceber que televisão com qualidade é afinal o primeiro critério. O resto virá por acréscimo.
A continuar a fazer-se daqui para melhor, não vejo que a RTP devesse ser privatizada, mas não consta que eu perceba muito de finanças e tenho só uma pequena biblioteca.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dia Mundial da Rádio

Hoje é o 1º Dia Mundial da Rádio, instituído pela UNESCO. Aqui fica a minha homenagem ao mundo da rádio.

 

O FRIO QUE FAZ NA CAMA em Festival Internacional de Teatro

A peça O FRIO QUE FAZ NA CAMA foi selecionada para o Festival Internacional de Teatro "CALE-se", de Vila Nova de Gaia. O espetáculo será apresentado no dia 25 de fevereiro, na Associação Recreativa de Canidelo - Vila Nova de Gaia, às 22 horas.

Esta participação no festival ocorre exatamente um ano após a nossa estreia nacional (em 25 de fevereiro de 2011, nas Caldas da Rainha). Assim, O FRIO QUE FAZ NA CAMA conta já com um ano de representações. Desta vez, preparamo-nos para viajar até ao norte.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Normal é não ser Vulgar


São diferentes as pessoas normais das pessoas vulgares. Por vezes, diz-se que um tipo é normal, vulgar. Está errado. Só pode ser uma coisa ou outra. A maior parte das pessoas são vulgares, algumas são normais e poucas são extraordinárias. Mas o normal não devia ser como é a maioria das pessoas? Não, porque o normal seria não ser vulgar. Dificilmente uma pessoa extraordinária convive bem com uma vulgar, podendo contudo dar-se com uma normal. A normalidade aqui não tem em conta aspetos físicos, mentais ou intelectuais. Esta categorização baseia-se apenas em quadros comportamentais.

Ir a um centro comercial, podemos dizer, é uma ação vulgar, da mesma forma que comer é vulgar, ou dormir ou tomar banho. Todas as pessoas vulgares o fazem e as pessoas extraordinárias também. Mas podemos estar no centro comercial e falar alto ao telemóvel, atirar piropos às mulheres ou aos homens que lá andam, dar encontrões também aos que lá andam ou envergar um fato de treino. No entanto, podemos não fazer nada disso no centro comercial, isto é, podemos ser normais. Dir-me-ão, mas a maior parte das pessoas não faz isso. Pois não, mas isto é apenas um exemplo e a vulgaridade tem vários patamares, este é dos mais baixos.

Mas mesmo as pessoas vulgares podem ser especiais para alguém. Há sempre alguém que vai adorar a forma como és capaz de fazer cem quilómetros em 40 minutos, num carro cujas peças sabes de cor e que, se for preciso, desmontas, montas e rebocas, também em 40 minutos (já agora, para ficar bem). Alguém gostará da vulgaridade que é ocupar três horas do teu dia a mexer em máquinas de um ginásio. Terás quem seja capaz de ficar contigo, todos os dias, a ver a mesma telenovela de 400 episódios, que só vai terminar no próximo ano. Ou seja, para teu consolo, és um tipo vulgar, mas alguém te vai achar especial.

Não podes esperar, contudo, que muita gente te ache assim. É difícil encontrar compatibilidade fora da vulgaridade e, na vulgaridade, como já vimos, a concorrência é muita. Já aqueles que flutuam acima da vulgaridade, conseguem ficar na retina de mais gente. É fácil um indivíduo vulgar fascinar-se por um normal, da mesma forma que a todos impressionam as pessoas extraordinárias. Impressionam sempre e causam inveja às vezes, e a inveja é uma coisa tão vulgar, que se torna difícil entender que pessoas que o não são, a sintam.

O que distingue a pessoa normal da vulgar é a vontade de querer ser extraordinária. Poucas hão-de conseguir mas é essa luta que as mantém em cima. E para quem quer ser mais, a vulgaridade queima.

domingo, 29 de janeiro de 2012

As particulares entrevistas de Marta

Uma particularidade linda das entrevistas feitas por Marta Leite Castro (um beijinho para ela! - é assim que se faz quando se vai falar mal de alguém) é que ela nunca faz perguntas. Faz afirmações e depois o entrevistado comenta e lá vai falando, parecendo que está a responder a alguma coisa mas não, está a ser fala barato, para não dizer que está a falar sozinho. O único resquício de pergunta na intervenção de Marta é o "não é?" com que ela sempre remata o que afirma. O entrevistado normalmente concorda, como era de esperar uma vez que a própria entrevistadora, quando faz a pergunta, já sabe a resposta, e desenvolve. Basicamente é assim uma "entrevista", que, após esta explicação, já tem de ser com aspas, de Marta Leite Castro.
Posto isto, eu tenho a certeza que sei exatamente como é que se podia estragar-lhe uma entrevista. Mas não vou dizer porque não quero que ninguém faça isso.


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Dizer Não


Quantas vezes dizemos não ao longo de um dia? Quantas ouvimos não ao longo da vida? Tantas ou mais ou menos do que ouvimos e dizemos sim? Não é fácil contabilizar, nem esta é uma questão de estatística comparada. Será inútil equiparar termos que não se comparam. A densidade de um sim não é a mesma da de um não. O sim é leve, o não pesa. O sim absorve-se facilmente, o não custa a digerir. São os nãos e nunca os sins que temos dificuldade de engolir. Se aceitamos com facilidade e regozijo um sim, é uma indigestão o que nos provoca o não. Donde se conclui que seriam precisos muitos sins para assumir a força de um não.

Porém, uma boa parte das nossas existências, levamo-las a conviver com nãos. Assumamos que são os nãos que ouvimos na nossa infância que nos fizeram crescer como pessoas, que moldaram a nossa personalidade. Demos, pois, esta de barato ainda que confunda pensar que essa personalidade é em parte negativa porque alicerçada em nãos ouvidos, mais do que sentidos.

Só mais tarde pode sentir-se o não com mais força, logo mais dor.

É difícil, por exemplo, imaginar uma repartição pública sem o não. Pensem na Segurança Social, nas Finanças ou no Centro de Saúde. É possível marcar uma consulta para amanhã? – Não. Já podem dizer-me alguma coisa sobre o meu pedido do mês passado? – Não. Qual é a resposta ao meu requerimento? – Não. Não, não, não é a resposta garantida, diz o senso comum. Até o senso comum é negativo porque foi formado em nãos. A personalidade individual foi moldada com respostas negativas, pelo que dificilmente o eu coletivo militaria primariamente no sim.

É a ordem natural a ditar a prevalência do não sobre o sim. Seria incomportável uma sociedade local ou global sem negações nem interdições. Uma comunidade política sem proibições não necessitaria de leis e, sem leis, dizem, a comunidade não se aguentaria. Da mesma forma, qualquer religião se mostraria insustentável sem restrições. Por mais sins que a religião abra, ela precisa de nãos para se manter e para nos manter no seu caminho.

A luta está em conseguir o sim porque o não vem sempre em primeiro lugar. Também há sins gratuitos mas aí é que está a esperança de viver num sistema negativo. O valor de encontrar quem diga sim à primeira, sem ser preciso insistir, só porque sim. É desses que vale a pena esperar alguma coisa, é com esses que podemos contar. Com a certeza, porém, de que até a esses, nós poderemos um dia ser capazes de dizer não.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Carta de Amor



Carta de Amor, de Karl Valentin (1882-1948); contemporâneo de Bertolt Brecht e Samuel Beckett.

Interpretação: Carlos Alves
no trabalho final do Curso Permanente de Teatro - módulo sobre Bertolt Brecht (Teatro Ibérico)
2009

carlosalvesoficial.blogspot.com

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

D. Maria II já tem programação até julho

Foi hoje apresentada a programação do Teatro Nacional D. Maria II para o primeiro semestre do ano. Apenas uma peça será produção própria do teatro agora dirigido por João Mota. Trata-se de "Onde Estavas Quando Criei o Mundo?" de Artur Ribeiro. Contando com este, serão levados a cena oito espectáculos até Julho, para além de outras criações inseridas no âmbito de festivais como o de Marionetas, de Almada e Alkantara.

A primeira produção será "Frei Luís de Sousa" de Almeida Garrett, uma;coprodução da Among Others Associação e Teatro da Garagem. Estreia a 9 de fevereiro.

Do delineado pela direção anterior, de Diogo Infante, mantém-se a produção de "A Morte de Danton" de Georg Büchner, encenação de Jorge Silva Melo. Já o "Rei Lear", que também estava nos planos de Diogo Infante, não será levado avante.

A programação ficará completa com as produções seguintes:
"As Aventuras de João sem Medo", de José Gomes Ferreira e encenação de João Mota;
"João Torto", uma criação da Magnólia Teatro e direção artística de Rafaela Santos;
"O Comboio da Madrugada", de Tennessee Williams.

O jornalismo não comprova teses

Começamos com um facto: o IVA na restauração aumentou no início do ano. Resultado esperado: os preços nos restaurantes vão subir. Hipótese empírica daí decorrente: as pessoas vão deixar de ir aos restaurantes.
Era esta a hipótese que interessava provar (notem que não digo testar, era mesmo para provar) no início deste ano. Na primeira oportunidade, fizeram-se diretos a partir de restaurantes, onde estavam pessoas a fazer uma coisa que se faz muito em restaurantes, que é comer. Já estavam a estragar tudo! Seria bom que o restaurante estivesse vazio para comprovar a tese do jornalista de que, com o aumento do IVA, as pessoas já não iam aos restaurantes... Mas estavam lá aqueles indivíduos a provar embirrantemente que não era bem assim. Vamos falar com eles, ainda assim.
- Então já sabe que isto está mais carote...
- É.
- Então e já pensou nisso?
- Já. Mas tenho de comer.
- Mas vai deixar de vir tantas vezes ao restaurante, não vai?
- Não, tenho de vir... comer!
(Este diálogo é fictício, mas retrata eficazmente a realidade)

E é assim que se destrói a tese de um jornalista, ainda que a sua insistência em prová-la tenha ficado bem demonstrada.

Vamos a mais um caso (dramático)- Reportagem da RTP - verão de 2011:
Tese a demonstrar: o Algarve é do best e "coitadinhos dos que cá não estão..."
Jornalistas na praia atrás das pessoas que descansadamente gozam férias. Segue-se mais um diálogo ficcionado mas tão próximo da realidade que até dá pena.

- Como é que se está aqui no Algarve?
- Está-se bem. (Pudera, as pessoas foram para lá é porque se sentem lá bem...)
- E não preferia estar noutro sítio?
- Não. (Pudera, se eles escolheram ir para ali passar férias, foi porque não quiseram ir para outro lado, e estou em crer que, mesmo que tivessem querido, agora não iam dizer)
- E sente pena de quem não pôde vir para o Algarve?
- Sim. (Neste momento, a pergunta é tão parva, que eu estou em crer que o entrevistado nem a leva a sério. Ainda que leve, a resposta só pode ser positiva, pois...)

Foi mais um exemplo de como transformar verdades nossas em verdades de todos.

Levar os outros a dizer o que queremos que digam não é fácil e exige perícia. No fundo, não é para todos. Tal como o jornalismo não é para todos. Ainda assim, o exercício do jornalismo exige mais de nós do que a arte de levar os outros a repetir o que nos vai na mente. Este, tenho a certeza, é um truque que se aprende facilmente, nem é preciso ler muito. Já o outro... às vezes também parece que não, mas depois sai asneira. E vemos tanta diariamente...!

O vox populi, essa forma nobre do jornalismo televisivo, usado todos os dias até à náusea, tem a sua beleza democrática - assumindo que fazer perguntas inócuas para obter respostas ocas é democrático -, porém em sobredosagem leva à depressão e à agonia. Há momentos de telejornal que são piores do que alguns comprimidos que conheço. Tentem acabar com essa parvoíce, não nos encaminhem para a overdose!