São diferentes as pessoas normais das pessoas vulgares. Por
vezes, diz-se que um tipo é normal, vulgar. Está errado. Só pode ser uma coisa
ou outra. A maior parte das pessoas são vulgares, algumas são normais e poucas
são extraordinárias. Mas o normal não devia ser como é a maioria das pessoas? Não,
porque o normal seria não ser vulgar. Dificilmente uma pessoa extraordinária
convive bem com uma vulgar, podendo contudo dar-se com uma normal. A
normalidade aqui não tem em conta aspetos físicos, mentais ou intelectuais.
Esta categorização baseia-se apenas em quadros comportamentais.
Ir a um centro comercial, podemos dizer, é uma ação vulgar,
da mesma forma que comer é vulgar, ou dormir ou tomar banho. Todas as pessoas
vulgares o fazem e as pessoas extraordinárias também. Mas podemos estar no
centro comercial e falar alto ao telemóvel, atirar piropos às mulheres ou aos
homens que lá andam, dar encontrões também aos que lá andam ou envergar um fato
de treino. No entanto, podemos não fazer nada disso no centro comercial, isto
é, podemos ser normais. Dir-me-ão, mas a maior parte das pessoas não faz isso.
Pois não, mas isto é apenas um exemplo e a vulgaridade tem vários patamares,
este é dos mais baixos.
Mas mesmo as pessoas vulgares podem ser especiais para
alguém. Há sempre alguém que vai adorar a forma como és capaz de fazer cem
quilómetros em 40 minutos, num carro cujas peças sabes de cor e que, se for
preciso, desmontas, montas e rebocas, também em 40 minutos (já agora, para
ficar bem). Alguém gostará da vulgaridade que é ocupar três horas do teu dia a
mexer em máquinas de um ginásio. Terás quem seja capaz de ficar contigo, todos
os dias, a ver a mesma telenovela de 400 episódios, que só vai terminar no
próximo ano. Ou seja, para teu consolo, és um tipo vulgar, mas alguém te vai
achar especial.
Não podes esperar, contudo, que muita gente te ache assim. É
difícil encontrar compatibilidade fora da vulgaridade e, na vulgaridade, como
já vimos, a concorrência é muita. Já aqueles que flutuam acima da vulgaridade,
conseguem ficar na retina de mais gente. É fácil um indivíduo vulgar
fascinar-se por um normal, da mesma forma que a todos impressionam as pessoas
extraordinárias. Impressionam sempre e causam inveja às vezes, e a inveja é uma
coisa tão vulgar, que se torna difícil entender que pessoas que o não são, a
sintam.
O que distingue a pessoa normal da vulgar é a vontade de
querer ser extraordinária. Poucas hão-de conseguir mas é essa luta que as
mantém em cima. E para quem quer ser mais, a vulgaridade queima.
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