Por Anatoli Vassiliev
Será que precisamos de teatro?
Esta é a questão que milhares de profissionais dececionados com o teatro, e que milhões de outras pessoas que estão cansados dele, perguntam a si próprios.
Para que é que precisamos dele?
Nos anos em que a cena é tão insignificante quando comparada com os bairros das cidades e capitais do mundo, onde estão em cena as autênticas tragédias da vida real.
O que é para nós?
Galerias e balcões dourados em salas de espectáculo, braços de cadeiras aveludadas, bastidores sujos, vozes de actores bem polidas, ou vice-versa, algo que pode ser aparentemente diferente: caixas negras, manchadas com lama e sangue, com um amontoado de corpos nus dentro.
O que é capaz de nos dizer?
Tudo!
O Teatro pode dizer-nos tudo.
Como os deuses habitam nos céus, e como os prisioneiros definham em caves subterrâneas esquecidas, e como as paixões nos podem elevar, e como o amor nos pode abater, e como ninguém precisa de uma boa pessoa neste mundo, e como a mentira reina, e como as pessoas vivem em apartamentos, enquanto crianças murcham em campos de refugiados, e como todos eles terão que voltar ao deserto, e como, dia após dia, somos forçados a nos separar dos nossos entes queridos, - o teatro pode dizer-nos tudo.
O teatro tem sido, e manter-se-à eterno.
E agora, nestes últimos cinquenta ou setenta anos, é particularmente necessário. Porque se observamos como está a arte popular, vemos imediatamente aquilo que apenas o teatro nos está a dar - uma palavra de boca a boca, um olhar de olho a olho, um gesto de mão a mão, e de corpo a corpo. Não precisa de intermediários para trabalhar junto dos seres humanos, -constitui a parte mais transparente da luz, não pertence ao sul, ao norte, este ou oeste, - oh não, é a própria essência da luz, a brilhar nos quatro cantos do mundo, imediatamente reconhecido por qualquer pessoa, quer seja hostil ou amigável para com ele.
E nós precisamos de teatro que permanece sempre diferente, nós precisamos de teatro de diferentes géneros.
Mesmo assim, penso que de todas as possíveis formas e contornos do teatro, são as suas formas mas arcaicas que terão atualmente uma maior procura. O teatro de formas rituais não se deve opor artificialmente ao das nações ditas “civilizadas”. A cultura secular está cada vez mais emasculada, a chamada “cultura informativa” gradualmente substitui e faz desaparecer entidades simples, bem como a nossa esperança de as encontrar um dia.
Mas eu agora vejo-o claramente: o teatro está a escancarar as suas portas. Admissão livre para todos.
Para o inferno com os aparelhos e computadores – vão simplesmente ao teatro, ocupem filas inteiras nas plateias e nas galerias, ouçam o mundo e vejam as imagens vivas! – é o teatro na vossa frente, não o negligenciem e não percam uma oportunidade de participarem nele – talvez seja a oportunidade mais preciosa que partilhamos nas nossas vidas apressadas e egocêntricas.
Precisamos de todos os géneros de teatro.
Existe apenas um teatro que seguramente não é necessário para ninguém – refiro-me ao teatro do jogo político, o teatro das “armadilhas” políticas, o teatro dos políticos, o fútil teatro da política. O que nós seguramente não precisamos é do teatro do terror diário – quer seja individual ou colectivo, o que nós não precisamos é do teatro dos corpos e do sangue nas ruas e praças, nas capitais e nas províncias, o teatro falso das batalhas entre religiões e grupos étnicos…
Tradução do Russo para Inglês: Natalia Isaeva
Tradução para Português: Bruno Daniel Gomes, com revisão de Fernando Rodrigues
(FPTA - Federação Portuguesa de Teatro)
domingo, 27 de março de 2016
sábado, 26 de março de 2016
RePublicações - Confio muito nessas pessoas!
Há sempre trabalhos mais difíceis do que outros no Teatro. Pode ser pela complexidade de determinado processo, pode ser pela responsabilidade que certos projetos nos impõem, pode ser mesmo por circunstâncias da vida do próprio ator/ atriz. São dificuldades que fariam muita gente falhar, numa profissão que é de toda a maneira difícil. Mas são também dificuldades que demonstram a força e o talento de quem é capaz de sofrer para as ultrapassar. A força e o talento de quem destrói as dificuldades para que, no final, aquilo tudo pareça fácil. Confio muito nessas pessoas! Espero sempre ser digno também dessa força e desse talento.
26 de março de 2014
26 de março de 2014
quinta-feira, 17 de março de 2016
Açores e Lisboa na rota de duas novas criações
Abril vai ser um mês de estreias. Particularmente estimulantes porque fazem parte de um percurso de criação e de resposta a um público que fomos conquistando e que espera mais de nós.
Começamos nos Açores.
Pela segunda vez consecutiva, fomos convidados a apresentar-nos na Noite do Sketch, no Teatro Ribeiragrandense, em Ribeira Grande - São Miguel. Respondemos a esse convite com tal entusiasmo que decidimos conceber um espetáculo especialmente pensado para levar lá.
Autoria e Encenação: Carlos Alves
Começamos nos Açores.
Pela segunda vez consecutiva, fomos convidados a apresentar-nos na Noite do Sketch, no Teatro Ribeiragrandense, em Ribeira Grande - São Miguel. Respondemos a esse convite com tal entusiasmo que decidimos conceber um espetáculo especialmente pensado para levar lá.
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"Juntam-se os atores que, no ano passado, brilharam com "Romeu e Julieta - A Revolta", Carlos Alves e Ana Campaniço. Desta feita, a dupla que vem de Lisboa traz um espetáculo original e que vai estrear no teatro da cidade norte" (Jornal Atlântico Expresso, de 14/03/2016)
Assim, vamos estrear A MINHA MULHER COMPORTA-SE COMO UM HOMEM, o sucessor de «Romeu e Julieta - A Revolta» por terras açorianas.
Em Lisboa, a estreia é no Teatro Turim - lá está, o percurso. Voltamos ao Turim, onde várias das nossas criações têm tido palco. Aqui, desta vez, com PIANO DE BAILE.
Nesta história, Sara é uma pianista bem sucedida, Matilde é uma atriz fracassada. Sara acolhe Matilde em sua casa numa ocasião de grandes dificuldades financeiras da jovem atriz. Em casa da pianista, Matilde acaba por encontrar o conforto de que precisa para prosseguir a luta pelos seus sonhos mas acabará por descobrir também algo que nem uma nem outra estavam à espera .«Piano de Baile» é uma comédia dramática ou um drama cómico. A designação não é importante para descrever uma história de amizade pautada pelo som do piano e da interajuda.
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Elenco: Ana Campaniço, Rita Rovisco e Carlos Alves
Direção Musical: Rita Rovisco
Teatro Turim, de 21 a 30 de abril
Conto em breve vir aqui partilhar convosco novos anúncios. Porque, meus caros, isto é só abril...!
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Dia Mundial da Rádio - 13 de fevereiro
Hoje é o Dia Mundial da Rádio. Ela já é importante para mim há muitos anos, desde que andava com um pequeno walkman na mão a ouvir rádio. Entusiasmavam-me as vozes, os anúncios, os jingles, a música entre as palavras. Que sorte!, pensava eu, que sorte têm as pessoas que estão a fazer isto, que falam aqui todos os dias. Um dia também vou fazer!, deve ter soado no meu interior de catraio. Era porventura um desejo muito íntimo, não o partilharia com ninguém. Terei vivido todos os dias com ele até que o satisfiz. E satisfaço, sempre com renovada paixão. É assim com as coisas que queremos muito. Conseguimo-las e amamo-las. Primeiro na Rádio Capital, agora na RDS. Dois registos opostos, duas formas de comunicar, um meio único - a Rádio. Numa, informação; na outra, subversão. Na Rádio já muito me foi possível!
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Dobre-se a língua antes de falar em dobragens
A dobragem de todos os filmes estrangeiros em Espanha, por exemplo, resulta de uma diretiva franquista que pretendia a uniformização linguística do país, visava impor o castelhano como língua única. No entanto, a língua não se defende assim. Contento-me muito por ser normal em Portugal poder ver filmes e séries na língua original. A língua não estaria mais defendida se fosse o contrário. Defender a língua é estimular a arte e a cultura produzidas e faladas em português. Cada novo filme, nova série, novo livro, novo álbum de música portuguesa fazem mais do que dez dobragens de longas do Spielberg. Os colegas que fazem as dobragens vão ficar chateados? Não faz mal, eles também são poucos.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
RePublicações - Ataque ao Charlie Ebdo
"O humor e a liberdade de expressão perdem sempre que se lhe impõem barreiras de qualquer tipo e ganham sempre que os seus executores se borrifam para as barreiras. Por muito que diariamente tenhamos pessoas a dizer-nos que sim, não há temas sagrados. Quando nos querem atirar com piadas proibidas, pessoas com quem não se brinca e outras que não aceitam uma brincadeira, valemo-nos da nossa sensibilidade e dos nossos valores e guiamo-nos só por eles. Não é justo tirar trabalho a humoristas por esta ou aquela piada, é injusto atacar humoristas que se recusam a ir além do trocadilho barato e da sempre engraçada diferença entre os homens e as mulheres, é mais injusto ainda matar humoristas porque quiseram olhar para a realidade (feia realidade!) do avesso, invertê-la, de tão feia fazer com que sejamos capazes de rir dela.
Não vou publicar frases de homenagem e solidariedade, quero, sim, ter talento para descobrir riso nessa mísera falta de humanidade daqueles que persistentemente têm feito chorar milhões de pessoas. E hoje decidiram ir fazer chorar a França. Podem ser capazes de criar tragédias bem reais, nós vamos conseguir encontrar comédias de ir às lágrimas nas vossas ações, que só não são rídículas porque matam. Fodam-se!"
7 de janeiro de 2015
7 de janeiro de 2015
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
"Terapia" para gente exigente
"Terapia", a nova série da RTP não é de consumo imediato, não se entranha à primeira, só se estranha de tão incomum, está bem escrita e tem uma realização que dá gosto ver. É boa televisão! Conta histórias sem as escarrapachar na cara dos espectadores, conta histórias como elas devem ser contadas, aos poucos, na descoberta, só com palavras e actores. Texto e personagem. Não seria jamais uma série para qualquer "ator de televisão" fazer, exige muito do ator, não é um trabalho para qualquer pessoa. Nos primeiros dois episódios já vimos Virgílio Castelo, Soraia Chaves e Nuno Lopes a fazê-lo de forma sublime.
A RTP arrasa neste início de ano com este projeto, cuidado, elegante e soberbo. Televisão para gente exigente, que afinal devíamos ser todos.
A RTP arrasa neste início de ano com este projeto, cuidado, elegante e soberbo. Televisão para gente exigente, que afinal devíamos ser todos.
sábado, 19 de dezembro de 2015
JANTARES DE GRUPO - O ENGRAÇADINHO
É Natal e, por conseguinte, período de organizar jantares de grupo. Avaliam-se os restaurantes, os preços e o melhor dia que convenha a todos, só não se avaliam os engraçadinhos que vão no meio do grupo. Na melhor das hipóteses, só há um engraçadinho entre os convivas mas pode acontecer que vão mais.
O Engraçadinho é o que vai para o jantar com o intuito claro de ser o centro das atenções. O Engraçadinho é o que menos condições reúne para ser o centro das atenções, ainda assim ele vai tentar. Ninguém tem paciência para o engraçadinho mas ninguém é capaz de lho dizer. O Engraçadinho acha que tudo o que faz é para rir. O Engraçadinho confia em que tudo o que diz tem piada. O Engraçadinho ri-se muito consigo próprio. O Engraçadinho tem a pila pequena. O Engraçadinho não se sabe comportar em sociedade. O Engraçadinho quer cantar, dançar e saltar à corda enquanto os outros comem. O Engraçadinho bebe sangria pelo nariz, se for preciso. O Engraçadinho fala mais alto do que os outros e repete a mesma coisa até alguém se rir. Se isso não acontecer, ele vai chamar pelo nome de alguém até que essa pessoa realmente se ria. O Engraçadinho cita Ricardo Araújo Pereira, quanto mais não seja nos antigos anúncios da Meo, porque nem sempre dá para ler a Visão todas as semanas. O Engraçadinho não deixa ninguém sossegado. O Engraçadinho é um amigo a evitar. O Engraçadinho devia morrer. Morte aos Engraçadinhos nos jantares de grupo (casamentos incluídos, esses jantares de grupo em larga escala)!
O Engraçadinho é o que vai para o jantar com o intuito claro de ser o centro das atenções. O Engraçadinho é o que menos condições reúne para ser o centro das atenções, ainda assim ele vai tentar. Ninguém tem paciência para o engraçadinho mas ninguém é capaz de lho dizer. O Engraçadinho acha que tudo o que faz é para rir. O Engraçadinho confia em que tudo o que diz tem piada. O Engraçadinho ri-se muito consigo próprio. O Engraçadinho tem a pila pequena. O Engraçadinho não se sabe comportar em sociedade. O Engraçadinho quer cantar, dançar e saltar à corda enquanto os outros comem. O Engraçadinho bebe sangria pelo nariz, se for preciso. O Engraçadinho fala mais alto do que os outros e repete a mesma coisa até alguém se rir. Se isso não acontecer, ele vai chamar pelo nome de alguém até que essa pessoa realmente se ria. O Engraçadinho cita Ricardo Araújo Pereira, quanto mais não seja nos antigos anúncios da Meo, porque nem sempre dá para ler a Visão todas as semanas. O Engraçadinho não deixa ninguém sossegado. O Engraçadinho é um amigo a evitar. O Engraçadinho devia morrer. Morte aos Engraçadinhos nos jantares de grupo (casamentos incluídos, esses jantares de grupo em larga escala)!
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
POEMA AO MEU AVÔ MATERNO
Escrevo-te
hoje que está frio
O frio
transporta-me às tardes em que as ideias ardiam
Ao fulgor da
lareira
A tua cabeça
inclinada e aquecida
Os meus
sonhos ardentes no aconchego de uma família
As labaredas
serenas respeitando-te os pensamentos
Elas serenas
embalando-me as emoções
O frio
apetece-me pela ideia de calor
Respeitámos
muito o silêncio naquelas tardes frias
Embalámo-nos
em pensamentos nas tonas que produziam calor.
Carlos Alves, 17.12.2015
sábado, 5 de dezembro de 2015
I e Sol juntos na morte
Li sempre o I com gosto. Moderno, irreverente, às vezes superficial, design excelente. No seu início, era eu jornalista em início de carreira, fiz parte de um processo de recrutamento, não me deram muita atenção (agora também não queria).
O Sol... nunca percebi muito bem o Sol. Não é um Expresso (nem tinha de ser), também não é um anti-Expresso (não conseguiu ser; começou por prometer não dar brindes, poucas semanas depois já tinha saquinho... com brindes), tem uma presença online assustadora, lançou algumas reportagens e algumas revelações que marcaram a sociedade, não sei se marcaram o jornalismo (a prisão de Sócrates e outras fugas ao Segredo). Não gosto de ver jornais a fechar mas jornalismo é democracia e democracia agora é sobretudo dinheiro. Vamos ver o que sucede.
O Sol... nunca percebi muito bem o Sol. Não é um Expresso (nem tinha de ser), também não é um anti-Expresso (não conseguiu ser; começou por prometer não dar brindes, poucas semanas depois já tinha saquinho... com brindes), tem uma presença online assustadora, lançou algumas reportagens e algumas revelações que marcaram a sociedade, não sei se marcaram o jornalismo (a prisão de Sócrates e outras fugas ao Segredo). Não gosto de ver jornais a fechar mas jornalismo é democracia e democracia agora é sobretudo dinheiro. Vamos ver o que sucede.
As Cores Transitórias
As cores de outono aguardam pálidas
inclinadas para um tempo
que resistirá frio ao seu abandono
Remetem para um calor que já não são possíveis de garantir.
Carlos Alves, 05.12.2015
inclinadas para um tempo
que resistirá frio ao seu abandono
Remetem para um calor que já não são possíveis de garantir.
Carlos Alves, 05.12.2015
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
Duas peças num palco só. E em simultâneo
Duas peças a decorrer em simultâneo no mesmo palco. É a encenação de Marco Mascarenhas, a estrear no próximo dia 3 de dezembro, no Teatro Turim, em Lisboa. "Jogo d' Enganos", assim se chama o espetáculo, resulta de uma adaptação de duas peças de Anton Tchekhov ("Pedido de Casamento") e George Feydeau ("A Sogra de Luís XIV"). Os dois textos têm como ponto comum a exploração crítica do embaraço dos seres humanos nas relações interpessoais. Um espetáculo bem disposto e que permite um acompanhamento gradual da evolução das duas histórias a serem contadas em paralelo. Uma proposta arrojada e nova de abordagem destes dois autores num espetáculo único!
Serão apenas seis espetáculos (duas semanas, de quinta a sábado, às 21h30), imperdíveis para quem gosta de Teatro, para quem gosta de rir e para quem gosta de clássicos. Para quem gosta de rir com clássicos no Teatro, então é fundamental.
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Joana Lourenço e Carlos Alves |
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Manuela Gomes e Onivaldo Dutra |
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Manuela Gomes e Ana Campaniço |
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Célia Figueira e Joana Lourenço |
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Carlos Alves e Joana Lourenço |
terça-feira, 10 de novembro de 2015
Um pouco de "Caídas em Desgraça"
São as primeiras imagens de CAÍDAS EM DESGRAÇA. Um excelente trabalho de Cristina Delgado. Só vou aqui disponibilizar três fotografias. No facebook e no instagram terão acesso a mais, agora e ao longo dos próximos dias.
O espetáculo vai ficar em cena apenas durante duas semanas em Lisboa. Estamos a preparar uma digressão nacional para realizar durante o ano 2016. Mas há duas coisas muito difíceis neste momento: a primeira é manter um espetáculo em cartaz por mais tempo, a segunda é que as estruturas de fora de Lisboa aceitem propostas.
Quanto à primeira, apenas posso sugerir que aproveitem os dias disponíveis para assistir a esta peça. A corrida às reservas foi grande mas ainda há alguns disponíveis. É fácil garantir ingressos acedendo ao site http://accaproducoes.wix.com/teatro
Quanto à segunda, vamos continuar a insistir por levar o nosso trabalho a mais gente e por fazer com que os equipamentos existentes por todo o país acedam a mostrar o que se está a fazer neste momento no Teatro português.
Outras leituras recomendadas:
Blogue "Viver de Tanto Rir" - Conversa com os atores Carlos Alves e Ana Campaniço: "Caídas em Desgraça"
Semanário Oje: “Caídas em Desgraça” no Auditório Carlos Paredes
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Ana Campaniço e Carlos Alves |
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Florbela Tibúrcio e Carlos Alves |
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Carlos Alves e Inês Moita |
O espetáculo vai ficar em cena apenas durante duas semanas em Lisboa. Estamos a preparar uma digressão nacional para realizar durante o ano 2016. Mas há duas coisas muito difíceis neste momento: a primeira é manter um espetáculo em cartaz por mais tempo, a segunda é que as estruturas de fora de Lisboa aceitem propostas.
Quanto à primeira, apenas posso sugerir que aproveitem os dias disponíveis para assistir a esta peça. A corrida às reservas foi grande mas ainda há alguns disponíveis. É fácil garantir ingressos acedendo ao site http://accaproducoes.wix.com/teatro
Quanto à segunda, vamos continuar a insistir por levar o nosso trabalho a mais gente e por fazer com que os equipamentos existentes por todo o país acedam a mostrar o que se está a fazer neste momento no Teatro português.
Outras leituras recomendadas:
Blogue "Viver de Tanto Rir" - Conversa com os atores Carlos Alves e Ana Campaniço: "Caídas em Desgraça"
Semanário Oje: “Caídas em Desgraça” no Auditório Carlos Paredes
sábado, 7 de novembro de 2015
Juntei uma história à crise
A próxima é uma semana de estreia no teatro. Chega ao público o espetáculo "Caídas em Desgraça", um texto que compus procurando seguir os moldes da chamada Alta Comédia, em 3 atos, e um desfecho inesperado. O motivo? Esse foi a crise financeira contemporânea. Esta causou-nos a todos muitos sobressaltos, preocupações, indignações... fez-nos mal, em suma. Então, é altura de brincar com ela, achei eu, altura de pegar nessa crise e acrescentar-lhe uma história, mais uma história.
Surge assim "Caídas em Desgraça", um enredo no seio de uma família de banqueiros a quem a crise (?), a má gestão (?), a especulação (?), as más práticas (?)... bom, seja o que for - infelizmente sabemos muito sobre isto, sabemos bem a quem atribuir responsabilidades e sabemos bem quem não as assume e quem não as faz assumir -, atirou para a desgraça, numa casa sem bens, sem comida e, cada vez mais, sem harmonia.
Quem pagou a crise? Os ricos ou os pobres? É uma questão premente. Nesta comédia eu quis que fossem os ricos (caprichos de um autor). Numa altura em que o fosso entre ricos e pobres voltou a estar em evidência, quis atirar para o palco a desgraça de uma família rica e fazer disso uma risada. Não é nada pessoal, é uma perspetiva diferente sobre quem me apetece rir.
Estamos muito satisfeitos com a corrida aos bilhetes que tem havido desde que o espetáculo foi anunciado. Ainda há dias com bilhete disponível e reservar é muito simples - basta seguir este link, preencher o formulário e enviar. O levantamento e pagamento dos bilhetes é feito na bilheteira do Auditório Carlos Paredes, no dia do espetáculo. Mais prático não podia ser!
Termino esta minha curta divagação, dando a palavra ao elenco. Vejam o vídeo:
Surge assim "Caídas em Desgraça", um enredo no seio de uma família de banqueiros a quem a crise (?), a má gestão (?), a especulação (?), as más práticas (?)... bom, seja o que for - infelizmente sabemos muito sobre isto, sabemos bem a quem atribuir responsabilidades e sabemos bem quem não as assume e quem não as faz assumir -, atirou para a desgraça, numa casa sem bens, sem comida e, cada vez mais, sem harmonia.
Quem pagou a crise? Os ricos ou os pobres? É uma questão premente. Nesta comédia eu quis que fossem os ricos (caprichos de um autor). Numa altura em que o fosso entre ricos e pobres voltou a estar em evidência, quis atirar para o palco a desgraça de uma família rica e fazer disso uma risada. Não é nada pessoal, é uma perspetiva diferente sobre quem me apetece rir.
Estamos muito satisfeitos com a corrida aos bilhetes que tem havido desde que o espetáculo foi anunciado. Ainda há dias com bilhete disponível e reservar é muito simples - basta seguir este link, preencher o formulário e enviar. O levantamento e pagamento dos bilhetes é feito na bilheteira do Auditório Carlos Paredes, no dia do espetáculo. Mais prático não podia ser!
Termino esta minha curta divagação, dando a palavra ao elenco. Vejam o vídeo:
Peça "Caídas em Desgraça" estreia dia 12 de novembro no Carlos Paredes em Benfica e vai estar em cena dia 12,13,14,19,20,21 às 21h30. Reservas para ac.caproducoes@gmail.com. O e-mail deve conter o seu nome o dia que pretende e o número de bilhetes que quer.Corra porque está a esgotar!
Publicado por Ana Campaniço em Sexta-feira, 6 de Novembro de 2015
domingo, 25 de outubro de 2015
Reflexão com a carga de um dia (e alguns anos)
A noite é um espaço para ter tempo. E tempo para assimilar a carga de um dia passado. A escrita surge sempre de uma carga pesada que trazemos nos ombros. Não somos capazes de escrever bons textos com o corpo leve; de ânimo leve há muito quem o tente fazer mas a leveza é inimiga da boa escrita, independentemente dos best sellers ou dos blogues mais seguidos serem tantas vezes esses mesmos, os usuários da leveza, os inimigos da boa escrita. Não importa. Importa ler (com sentido crítico), refletir (com sentido elevado) e escrever (por necessidade).
Neste espaço que reservei na noite para ter tempo de escrever com a carga pesada de um fim de dia, cabe o Teatro, sempre o Teatro, princípio e fim de muitas coisas depois de quase trinta anos de vida. Não gosto de falar exageradamente da minha profissão. Não gosto de parecer glorificá-la com qualitativos e intenções hiperbólicas. Ainda assim, se quero - e poucas vezes quero - falar dela, terei necessariamente de assumir o que ela me representa. Foi o que fiz nas últimas linhas.
Neste momento, estou com a mente e o corpo disponíveis para dois projetos, dois personagens, duas peças. Dois trabalhos que me fazem tocar limites e a explorar a flexibilidade que sou capaz de alcançar. É uma felicidade e um privilégio poder fazer isso, não é um sacrifício. A divulgação destes espetáculos está a ser feita por canais próprios, não é minha intenção reforçá-la aqui. Importa-me apenas transportar a carga desse trabalho para a escrita de uma reflexão que me ocupa a mente em todas as horas destes dias. É uma partilha íntima de um ator, só isso. Desde a procura de um registo cómico e overact mas consistente, até ao regresso a uma interioridade e uma profundidade na construção de uma personagem. É um desafio necessário, impreterível e, mais do que tudo, exigível a um ator. Daí a sorte e o privilégio. Mas também a angústia e a ansiedade.
É hora de deixar a carga e voltar a pegar nela amanhã. Se estas preocupações interessam a muita gente, não sei. Não estou a escrever um best seller nem este é um blogue dos mais seguidos. Ainda assim, tudo isto é um trabalho que é meu mas que não é feito para mim.
Neste espaço que reservei na noite para ter tempo de escrever com a carga pesada de um fim de dia, cabe o Teatro, sempre o Teatro, princípio e fim de muitas coisas depois de quase trinta anos de vida. Não gosto de falar exageradamente da minha profissão. Não gosto de parecer glorificá-la com qualitativos e intenções hiperbólicas. Ainda assim, se quero - e poucas vezes quero - falar dela, terei necessariamente de assumir o que ela me representa. Foi o que fiz nas últimas linhas.
Neste momento, estou com a mente e o corpo disponíveis para dois projetos, dois personagens, duas peças. Dois trabalhos que me fazem tocar limites e a explorar a flexibilidade que sou capaz de alcançar. É uma felicidade e um privilégio poder fazer isso, não é um sacrifício. A divulgação destes espetáculos está a ser feita por canais próprios, não é minha intenção reforçá-la aqui. Importa-me apenas transportar a carga desse trabalho para a escrita de uma reflexão que me ocupa a mente em todas as horas destes dias. É uma partilha íntima de um ator, só isso. Desde a procura de um registo cómico e overact mas consistente, até ao regresso a uma interioridade e uma profundidade na construção de uma personagem. É um desafio necessário, impreterível e, mais do que tudo, exigível a um ator. Daí a sorte e o privilégio. Mas também a angústia e a ansiedade.
É hora de deixar a carga e voltar a pegar nela amanhã. Se estas preocupações interessam a muita gente, não sei. Não estou a escrever um best seller nem este é um blogue dos mais seguidos. Ainda assim, tudo isto é um trabalho que é meu mas que não é feito para mim.
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