quarta-feira, 9 de julho de 2014
A proximidade destrói o fascínio da distância
A revista onde esta página pertence foi um adereço de uma das peças que fiz este ano. Há muito tempo que admiro o trabalho do Bruno Nogueira, acabei por ler a entrevista toda mas fixei-me nesta frase destacada.
Ela reflete muito sobre o fã nas nossas vidas. O fã tido para mim como aquela pessoa que nos admira pelo nosso trabalho, pelo nosso posicionamento social, pelo nosso modo público de estar. O fã que acompanha o que fazemos profissionalmente, que nos segue nas redes sociais, que muitas vezes nos surpreende pelo carinho e atenção que demonstra.
Essas são pessoas que nos seguem de perto mas que nunca nos conhecem bem. Porque só conhecem a imagem que lhes transmitimos, a imagem que construímos para passar aos outros. Não é de todo uma imagem falsa mas não deixa de ser construída. E é desse outro "eu" que as pessoas gostam.
Não significa isto que o que somos verdadeiramente seja pior do que a imagem pública que passamos mas é esta que é apelativa, porque distante. A proximidade, o conhecimento de outra pessoa destrói o fascínio da distância. É fácil sobrevalorizar o que vemos de longe, a quem nos é próximo vemos de igual para igual. Ninguém é tão fascinante como julgam aqueles que o admiram. Mas são estes que exageram, a culpa é deles.
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Teatro Rápido - a despedida
Tenho lido todas as mensagens que nas últimas horas aqui têm
sido partilhadas. São mensagens de tristeza, perda, emoção mas também orgulho
por, de alguma forma, se ter feito parte daquilo que foi o Teatro Rápido. Quis
também deixar-vos algumas sinceras palavras neste fim (palavra que não gosto de
escrever) porque compreendo que as coisas às vezes tenham de acabar mas
raramente acho que devesse ser assim. O significado de fim é um conflito comigo
próprio.
Cheguei ao Teatro Rápido naquela que, afinal, foi a sua reta
final, sem que eu disso tivesse consciência. Cheguei em abril. No último abril.
Como ator. Como espectador já cá tinha chegado muito mais cedo. E foi um abril
muito intenso, foi um abril muito bom. Hei-de recordá-lo sempre. Recordarei
sempre a primeira pessoa que me recebeu, no primeiro ensaio. Ruy Malheiro,
obrigado pela simpatia e pela disponibilidade! Recordarei o esforço diário e
constante de todos os outros para que tudo estivesse a correr bem, para que eu
sentisse vontade todos os dias de estar lá e trabalhar. Vamos deixar as
enumerações, vocês sabem quem são, não são precisas linhas para vos descrever.
Recordarei a Sala 4, o meu único pousio naquele Teatro, foi a minha Sala.
Recordarei o texto que escrevi só para aqui, a encenação que desenhei só para
aqui, o meu trabalho de ator, que me valeu a pena, que me acrescentou algo, o
trabalho partilhado com a Ana Campaniço - mais do que uma colega, é uma pessoa
muito especial na minha vida. Tudo contribuiu para que esse mês de abril, o
último abril, fosse especial. Os colegas com quem partilhei o mês, todos tão
bons! Que sorte ter estado convosco!
É um Teatro que encerra, é uma pena gigante, é uma perda
terrível. Sonho com a Cultura desde miúdo, gostava de ver teatros a nascer,
detesto vê-los morrer. Interessa-me agora apenas dizer-vos que valeu a pena
assistir aos vossos espetáculos, valeu a pena concretizar, valeu a pena fazer
parte desta história.
Bastava esta última frase, afinal, mas não vos consigo dizer
tanto com tão poucas palavras.
Vamos ver-nos mais!
Até já!
Ator Carlos Alves
segunda-feira, 21 de abril de 2014
Teatro Rápido - Direito por Linhas Tortas (Abril) - Reportagem
Deixo-vos aqui uma reportagem sobre as quatro peças em cena no Teatro Rápido. Obrigado à Raquel Cordeiro e à Ana Rita Santos. Belo trabalho!
sexta-feira, 18 de abril de 2014
Estreia de OS ANJOS TOSSEM ASSIM
É hoje que estreia OS ANJOS TOSSEM ASSIM! Em mês de
comemoração dos 40 anos do 25 de abril, apresentamos um espetáculo em que a
repressão e a revolta estão bem presentes. Um texto de Sandro William Junior
encenado por Marco Mascarenhas.
Do terraço de um prédio, a visão é assustadora. O medo do
que aconteceu e do que está para acontecer. Fora desse terraço, a realidade é
permanentemente encenada ao gosto de uma nova autoridade e de uma ideia que se
pretende impor.
Em cena entre hoje e domingo, no Auditório Carlos Paredes,
às 21h30, domingo às 17.
Uma produção Ditirambus em parceria com a Culturgest -
Fundação CGD.
domingo, 13 de abril de 2014
quinta-feira, 27 de março de 2014
DIA MUNDIAL DO TEATRO
Chego a este Dia Mundial do Teatro de 2014 com duas peças
concretizadas este ano. Uma, "Camarim", já estreada e representada em
duas cidades. A outra, "Direito ao Assunto", a estrear daqui a uma
semana, em Lisboa. É um ano que está a correr bem. Faço ainda assistência de
encenação num outro espetáculo, "Os Anjos Tossem Assim" (também
estreia no mês que vem).
As duas primeiras que referi são produções independentes,
concebidas e levadas adiante pela vontade criadora e pelo desejo artístico de
não esperar por dias melhores nem por estrutura alguma que me satisfizesse os
intentos.
Foram já alguns os 27 de março que atravessei desde que
comecei a minha vida no Teatro. Em cada um deles penso muito nesse percurso.
Orgulho-me dele e quero dar-lhe continuidade, uma continuidade cada vez melhor,
cada vez mais alta. Mas não deixo nunca de pensar o quanto vale a pena. O quanto
vale a pena estudar, ler, angustiar-me, fazer e repetir, esperar que o público
venha, alegrar-me quando vem, desiludir-me quando o não faz; o quanto vale a
pena a incompreensão de familiares, amigos e conhecidos por não se ter um
emprego comum, a incompreensão de um Estado por não se ter um pensamento comum,
a incompreensão de muitos outros por não ser uma pessoa comum. Como as pessoas
comuns para quem já nem ir ao teatro é comum.
Podia sempre concluir que vale pouco tudo isto! Mas vale
muito. Vale muito sentir que as pessoas se divertiram, que se emocionaram, que
refletiram, que passaram um bom momento graças ao meu trabalho. Vale muito,
depois de muito esforço, apresentar algo físico, real e único a uma plateia.
Vale muito descobrir que aquilo que fizemos enriqueceu as pessoas que nos
viram; cultural, intelectual ou sentimentalmente elas saíram mais ricas.
Mensagem para o Dia Mundial do Teatro 2014
Por Brett Bailey
Desde que existe sociedade humana, existe o irreprimível espírito da representação.
Debaixo das árvores, nas pequenas cidades e sobre os palcos sofisticados das grandes
metrópoles, nas entradas das escolas, nos campos, nos templos; nos bairros pobres, nas
praças públicas, nos centros comunitários, nas caves do centro das cidades, as pessoas
reúnem-se para comungar da efeméride do mundo teatral que criámos para expressar a
nossa complexidade humana, a nossa diversidade, a nossa vulnerabilidade, em carne, em
respiração e em voz.
Reunimo-nos para chorar e para recordar; para rir e para comtemplar; para ouvir e aprender,
para afirmar e para imaginar. Para admirar a destreza técnica, e para encarnar deuses. Para
recuperar o folego coletivo, na nossa capacidade para a beleza, a compaixão e a
monstruosidade. Vive??mos pela energia e pelo poder. Para celebrar a riqueza das várias
culturas e para afastar as fronteiras que nos dividem.
Desde que existe sociedade humana, existe o irreprimível espírito da representação.
Nascido na comunidade, veste as máscaras e os trajes das mais variadas tradições. Aproveita
as nossas línguas, os ritmos e os gestos, e cria espaços no meio de nós. E nós, artistas que
trabalhamos o espírito antigo, sentimo-nos compelidos a canalizá-lo pelos nossos corações,
pelas nossas ideias e pelos nossos corpos para revelar as nossas realidades em toda a sua
concretude e brilhante mistério.
Mas, nesta ERA em que tantos milhões lutam para sobreviver, está-se a sofrer com regimes
opressivos e capitalismos predadores, fugindo de conflitos e dificuldades, com a nossa
privacidade invadida pelos serviços secretos e as nossas palavras censuradas por governos
intrusivos; com as florestas a ser aniquiladas, as espécies exterminadas e os oceanos
envenenados.
O que é que nos sentimos obrigados a revelar?
Neste mundo de poder desigual, no qual várias hegemonias tentam convencer-nos que uma
nação, uma raça, um género, uma preferência sexual, uma religião, uma ideologia, um
quadro cultural é superior a todos os outros, será isto realmente defensável? Devemos
insistir que as artes sejam banidas das agendas sociais?
Estaremos nós, os artistas do palco, em conformidade com as exigências dos mercados
higienizados ou será que têm medo do poder que temos para limpar um espaço nos
corações e no espirito da sociedade, reunir pessoas, para inspirar, encantar e informar, e para
criar um mundo de esperança e de colaboração sincera?
Desde que existe sociedade humana, existe o irreprimível espírito da representação.
Debaixo das árvores, nas pequenas cidades e sobre os palcos sofisticados das grandes
metrópoles, nas entradas das escolas, nos campos, nos templos; nos bairros pobres, nas
praças públicas, nos centros comunitários, nas caves do centro das cidades, as pessoas
reúnem-se para comungar da efeméride do mundo teatral que criámos para expressar a
nossa complexidade humana, a nossa diversidade, a nossa vulnerabilidade, em carne, em
respiração e em voz.
Reunimo-nos para chorar e para recordar; para rir e para comtemplar; para ouvir e aprender,
para afirmar e para imaginar. Para admirar a destreza técnica, e para encarnar deuses. Para
recuperar o folego coletivo, na nossa capacidade para a beleza, a compaixão e a
monstruosidade. Vive??mos pela energia e pelo poder. Para celebrar a riqueza das várias
culturas e para afastar as fronteiras que nos dividem.
Desde que existe sociedade humana, existe o irreprimível espírito da representação.
Nascido na comunidade, veste as máscaras e os trajes das mais variadas tradições. Aproveita
as nossas línguas, os ritmos e os gestos, e cria espaços no meio de nós. E nós, artistas que
trabalhamos o espírito antigo, sentimo-nos compelidos a canalizá-lo pelos nossos corações,
pelas nossas ideias e pelos nossos corpos para revelar as nossas realidades em toda a sua
concretude e brilhante mistério.
Mas, nesta ERA em que tantos milhões lutam para sobreviver, está-se a sofrer com regimes
opressivos e capitalismos predadores, fugindo de conflitos e dificuldades, com a nossa
privacidade invadida pelos serviços secretos e as nossas palavras censuradas por governos
intrusivos; com as florestas a ser aniquiladas, as espécies exterminadas e os oceanos
envenenados.
O que é que nos sentimos obrigados a revelar?
Neste mundo de poder desigual, no qual várias hegemonias tentam convencer-nos que uma
nação, uma raça, um género, uma preferência sexual, uma religião, uma ideologia, um
quadro cultural é superior a todos os outros, será isto realmente defensável? Devemos
insistir que as artes sejam banidas das agendas sociais?
Estaremos nós, os artistas do palco, em conformidade com as exigências dos mercados
higienizados ou será que têm medo do poder que temos para limpar um espaço nos
corações e no espirito da sociedade, reunir pessoas, para inspirar, encantar e informar, e para
criar um mundo de esperança e de colaboração sincera?
Mensagem divulgada pelo International Theatre Institute - ITI
World Organization for the Performing Arts
Tradução portuguesa: Margarida Saraiva
quarta-feira, 26 de março de 2014
EM ABRIL NA SALA 4 DO TEATRO RÁPIDO
A ideia para esta peça surge de uma abordagem do tema
“Direito por Linhas Tortas” pelo conceito de Direito no sentido de Justiça. A
peça relata dois crimes paralelos e há nela uma obsessão pela Justiça. Um
Inspetor que quer encontrar culpados e resolver um caso. Uma Mulher que está a
ser injustamente acusada, ansiosa por fazer notar que é vítima e não culpada.
Tudo se encaminha para que se faça a tal Justiça, por que se exerça o Direito,
sendo que, a fazer-se, foi por caminhos tortuosos e depois de vários momentos
em que as personagens não estavam a conseguir comunicar. Como em vários aspetos
da vida, os bons resultados obtêm-se por vias menos fáceis, quer levar-se,
neste espetáculo, o conseguir Direito por caminhos confusos à letra. O
resultado que se pretende é um espetáculo tenso e intenso, pela gravidade do
crime, pela dificuldade em o revelar, pela impaciência policial, pela
dificuldade em ouvir o outro.
terça-feira, 25 de março de 2014
DIREITO AO ASSUNTO - Sinopse
Uma mulher está detida por um crime que não cometeu. É suspeita de um assalto a uma tabacaria. É persistentemente interrogada por um inspector. As respostas da mulher não vão ao encontro das questões do polícia. No entanto, elas revelam um outro crime, bem mais grave, que o inspector não interpreta na sua cegueira pelo caso que tem entre mãos.
Teatro Rápido - Sala 4
De 3 a 28 de abril
18h20; 18h50; 19h20; 19h50; 20h25
de quinta a segunda
quarta-feira, 12 de março de 2014
DIREITO AO ASSUNTO - Peça no Teatro Rápido com Carlos Alves e Ana Campaniço
Como já sabem, eu e a Ana Campaniço vamos estar em cena
durante todo o mês de abril no Teatro Rápido, em Lisboa. Prometemos para hoje a
revelação do nome da peça e do respetivo cartaz. Aqui estão. Esperamos que
gostem!
quinta-feira, 6 de março de 2014
Carlos Alves e Ana Campaniço levam espetáculo a Setúbal
Os atores Carlos Alves e Ana Campaniço apresentam, nos dias
21 e 22 de março, às 21h30, no TAS - Teatro Animação de Setúbal, a peça
"Camarim".
Esta é uma criação dos dois artistas que aborda os
bastidores e as relações por detrás das câmaras de televisão e fora das luzes
do palco.
Depois do sucesso da temporada em Lisboa, no Teatro Turim, o
espetáculo será agora apresentado em Setúbal.
"A ideia de trazer o camarim para a vista do público
foi o ponto de partida para a conceção deste espetáculo. Fruto do nosso
envolvimento no mundo da comédia, pensámos criar um texto que refletisse
algumas das preocupações, ânsias e relações entre os artistas", explicam
os criadores.
O balanço entre a aparência e a verdade, entre a fama e a
solidão, entre o drama e a comédia dão uma paradoxalidade ao espetáculo que
pretende atenuar a linha entre o choro e o riso.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Salvem-se se puderem!
A RTP promoveu um programa que transmitiu neste domingo sob o mote "Salvem o stand up". Desde logo, um mote errado por pressupor que o stand up precisa de ser salvo. Não vejo porquê. Portugal tem excelentes comediantes. Excelentes mesmo. Comediantes que fazem stand up e fazem-no brilhantemente. Esses poderão constituir a salvação do stand up contra os que o fazem mal, os que o fazem sem honestidade, sem brio, sem talento, sem humildade para aprender. Mas não importa que haja estes se houver aqueles. Se há exercício de "salvação" que a RTP poderia fazer era realizar um grande espetáculo de stand up comedy com humoristas de renome, com a nova geração de comediantes, que os tem bons, no fundo, uma seleção criteriosa e preparada do elenco. Não fez nada disso.
São oportunidades que se perdem. Não se pode salvar os outros sem nos salvarmos a nós mesmos primeiro.
São oportunidades que se perdem. Não se pode salvar os outros sem nos salvarmos a nós mesmos primeiro.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Os Dias do Facebook - Poema
O poema que apresentei em primeira mão na minha rubrica na RDS, a propósito do 10º aniversário do Facebook. Agora aqui disponível para audição imediata. Bom fim de semana!
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
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