Entrar neste texto de Jaime Salazar Sampaio é como enfiarmo-nos
dentro de um labirinto, donde não se vislumbra uma saída. Cada
caminho é interrompido por outros que nos atiram ainda para uns com
que não contávamos. É uma viagem, de muitos modos, e também no
tempo. O texto fala de tempo mesmo quando parece esquecer-se dele;
fala de um teatro que quer questionar; ficciona a realidade,
deixando-nos sempre na dúvida sobre em que pé estamos agora. Isto é
mesmo a sério?
Fala de amores, férias de Verão, noites que podem ser as últimas,
vidas difíceis cruzadas com sonhos lindos. Fala da vida. E do
Teatro. Do Teatro na vida e da vida no Teatro. E de muito mais,
“porque numa peça nunca se diz tudo”.
A
questão de tempo está em tudo o que faz com que ele passe e no que
ele deixa à sua passagem. Por outro lado, é sempre uma questão de
tempo até que tudo se desvaneça ou não desvaneça, aconteça ou
não aconteça. É a questão de tempo que nos afasta de uma gloriosa
infância.
“O que é que ele quer que a gente faça com isto?” foi a questão
que colocámos muitas vezes. Mobilizámo-nos então para entender e
decidimos que seria mais ou menos assim, “com umas pequenas
modificações, uns cortes, uns aditamentos”. Mas a nossa questão
fundamental é o espectador. Que papel lhe atribuímos neste
espectáculo, se é que lhe atribuímos algum? O papel do espectador,
é esse o nosso problema. O dilema entre a passividade ou a
emancipação, seguindo o conceito de Rancière. Será um espectador
que apenas olha ou um que também compõe um espectáculo a partir
dos elementos do espectáculo que tem à frente? O papel do
espectador é um problema nosso e talvez possa ser o problema de
todos os nossos espectadores.
Carlos Alves
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