Estou muito aliviado hoje porque já sei que não fui escolhido para apresentar o Festival da Canção. É menos um problema.
Serve este prelúdio presunçoso e
patético para avançar na abordagem à escolha das quatro
apresentadoras quatro que vão lidar a corrida na Arena da Altice, na
próxima edição do Festival da Eurovisão. Culpa de Salvador
Sobral, o Festival, neste ano, realiza-se em Lisboa, o que representa
enorme regozijo entre todos os nacionais vivos. Lembremos que há
dois anos ninguém levantaria os olhos dos classificados do Correio
da Manhã para perder tempo a olhar para o Festival da Canção.
Tempos houve em que este era um evento que, quando muito, se via de
costas. As coisas mudaram, a música agora é outra e o Festival é
prestígio.
O alarido foi grande aquando a
revelação das escolhidas apresentadoras que espalharão charme e
sorrisos por essa Europa fora, em Maio. Catarina Furtado, um
clássico; Sílvia Alberto, a réplica do clássico; Filomena
Cautela, algo demasiado acelerado para ser classificado por ora; e
Daniela Ruah, a representante portuguesa de Hollywood na Europa, para
espetar na cara do resto do continente.
As primeiras vozes críticas surgiram
de imediato em torno do género das escolhidas. “Então, mas é só
mulheres”? Argumento facilmente rebatido por dar-se o caso de que,
até ver o trabalho dessas quatro mulheres, não estou certo de que
alguém o faria melhor só por ter um pénis. Questão respondida,
podemos avançar.
Engraçou-me o impacto da escolha das
apresentadoras do evento, o qual antes qualquer um atiraria, sem
qualquer pena, para as mãos do Eládio Clímaco. “O Eládio faz,
ele também já está habituado aos Jogos Sem Fronteiras...”
Agora não. Desta vez, procurou-se uma
frente nacional de beleza feminina, sorrisos bonitos e corpos para
vestidos de estilista famoso. Foi preciso um tipo desconchavado com
um casaco dois tamanhos acima para entregar glamour à Eurovisão. O
assunto de que nem se queria falar, virou trend do dia. Um
Festival que antes era seria visto como coisa para despachar para o
José Figueiras, agora até a Cristina Ferreira apresentaria de bom
grado. Um evento que carregava o peso de ser bimbo, agora é
discutido no twitter. Onde não há pessoas bimbas, só intelectuais
cosmopolitas. A dizer barbaridades a toda a hora mas são
barbaridades intelectuais e cosmopolitas.
Quem diria que ainda um dia haveríamos
de ver a Eurovisão ser tão relevante para para Portugal! Note-se
que a primeira vez que lá fomos foi com uma canção chamada
“Oração”, cantada por António Calvário, muito bem executada,
não se duvida, mas que era a depressão em forma de notas musicais.
Era como se tivessem cortado o Salazar em pedacinhos e o tivessem
espalhado por uma pauta em forma de fusas e semi colcheias.
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