1. Já há muito tempo que tenho na memória a expressão
“Agarrem-me senão vou-me a ele”. Trata-se de uma derivação de “cão que ladra
não morde” numa versão mais ativa. Naquela, o cão não só não morde como brada
para que o impeçam de morder. Tenho essa expressão na minha memória há muito
tempo mas não gosto dela, acho-a cobarde, e também desde há muito tempo me
repugna a cobardia. Seja como for, “agarrem-me senão vou-me a ele” é a melhor
expressão que define todos os apoiantes à distância do Syriza. As forças
políticas, associações, coletividades, mesas de café ou cabecinhas pensadoras
que, a partir de Portugal, apoiam o Syriza com veemência, não desejavam ter os
bancos fechados nem serem impedidos de levantar dinheiro, no entanto aplaudem a
garra de um governo que já deixou o seu povo nesse estado. Em apenas meio ano.
A razão
porque o Syriza nunca ganharia eleições em Portugal é que, por cá, essa área
ideológica está cheia de cães que ladram mas não mordem. É extremamente fácil aplaudir
a desgraça de um país inteiro, chamando-lhe resistência. Já resistir até à
desgraça não é para fala-baratos.
Nós vamos
ter eleições ainda este ano e vamos ter mini-Syrizas também. Vão ladrar mas não
vão morder. Ninguém aqui vai desejar que o Estado lhe diga quanto dinheiro é
que pode levantar, em nome de uma guerrilha barulhenta e visivelmente
desastrosa. A mim, interessa-me muito acabar com o poderio dos funcionários de
Bruxelas e meter uma pala sonora à arrogância dos países do Norte. No entanto,
não desejo passar fome nessa luta. Estarei a ser cobarde? Talvez. Mas quando
espetaram com Portugal na CEE, eu tinha acabado de nascer; quando o atiraram
para o euro, eu mal sabia fazer contas; bom, eu só de há poucos anos para cá me
estou a inteirar do que fizeram a este país. E está a sair-me do pelo todos os
dias. É essa a minha resistência, bem diferente de aplausos e manifestações de
apoio a governos de extrema-esquerda, bem contrária ao muito palavreado e pouco
resultado dessas campanhas mediáticas e espetaculosas de Syrizas e derivados.
2. Por estar muito tempo fora de Vila Real, acompanho o que
vai acontecendo à distância. Assim, vi recentemente imagens da Alameda de
Grasse (entre o Teatro e o Centro Comercial) depois das obras. Ficou
vermelhinha! Provavelmente estariam já a pensar nas tendências outono/ inverno
e então fizeram isso.
Por cá,
donde vos escrevo, um vereador da Câmara de Lisboa propôs há dias que se
atirasse abaixo uma das principais estações de comboios do país, a de Santa
Apolónia, para ali criar um enorme espaço verde com vista para o Barreiro –
logo para o Barreiro que nem tem nada para ver. Em Vila Real, tinham um pequeno
espaço verde e acharam que era demais. Os espaços verdes são sempre objeto do
exagero.
(Crónica publicada no semanário A Voz de Trás-os-Montes, edição de 9 de julho de 2015)
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