Gostava de vos falar do tempo. Não do da meteorologia,
porque "só quem não tem nada na cabeça é que fala do tempo, para ocupar
tempo de antena", diz-se numa peça que eu bem conheço. Do outro tempo, o
tempo que passa por nós, o passado, o presente e o futuro. Esse tempo.
Eu não vivi ainda muito tempo mas já vivi muito dentro desse
pouco tempo que tive. Vivi sempre muito de olhos postos no futuro, é verdade,
mas muito também a saborear o presente, cada presente.
Isto não pretende ser uma reflexão filosófica sobre o tempo
- não sou filósofo e, se o fosse, escrevia um tratado, não um texto numa rede
social para consumo imediato. Pretende apenas ser uma conclusão simples sobre o
tempo que é preciso para perceber tudo. O tempo que levamos a assimilar, a
compreender, a querer ver o que não assimilámos, não compreendemos, não
quisemos ver no tempo em que estávamos lá, no tempo em que o tempo eram balas e
o nosso corpo estava desprotegido. Só muito mais tarde percebemos o tempo que
passou e raramente esse tempo foi o que, na altura, julgávamos que era. Para o
bem e para o mal é sempre assim. Vivemos durante um tempo para concluir algum
tempo depois que o que vivemos foi uma coisa diferente. E o que fica são as
memórias piores do que julgávamos que tinha sido muito bom e as melhores do que
na altura nos parecia insatisfatório. A memória são os reflexos do passado
depois de maturados pelo tempo de os compreender. Não está na nossa memória o
que vivemos mas sim o que sabemos hoje daquilo que vivemos. E, muitas vezes, o
que sabemos depois do tempo estraga-nos a memória. Ela fica pior mas é essa a
verdadeira. Foi isso que aconteceu.
E daqui a um tempo vou perceber que o que estou a viver
agora também é uma coisa diferente. E vocês também. Porque o tempo é o único
que não nos engana.
Sem comentários:
Enviar um comentário