quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A Fórmula da Memória

Gostava de vos falar do tempo. Não do da meteorologia, porque "só quem não tem nada na cabeça é que fala do tempo, para ocupar tempo de antena", diz-se numa peça que eu bem conheço. Do outro tempo, o tempo que passa por nós, o passado, o presente e o futuro. Esse tempo.
Eu não vivi ainda muito tempo mas já vivi muito dentro desse pouco tempo que tive. Vivi sempre muito de olhos postos no futuro, é verdade, mas muito também a saborear o presente, cada presente.

Isto não pretende ser uma reflexão filosófica sobre o tempo - não sou filósofo e, se o fosse, escrevia um tratado, não um texto numa rede social para consumo imediato. Pretende apenas ser uma conclusão simples sobre o tempo que é preciso para perceber tudo. O tempo que levamos a assimilar, a compreender, a querer ver o que não assimilámos, não compreendemos, não quisemos ver no tempo em que estávamos lá, no tempo em que o tempo eram balas e o nosso corpo estava desprotegido. Só muito mais tarde percebemos o tempo que passou e raramente esse tempo foi o que, na altura, julgávamos que era. Para o bem e para o mal é sempre assim. Vivemos durante um tempo para concluir algum tempo depois que o que vivemos foi uma coisa diferente. E o que fica são as memórias piores do que julgávamos que tinha sido muito bom e as melhores do que na altura nos parecia insatisfatório. A memória são os reflexos do passado depois de maturados pelo tempo de os compreender. Não está na nossa memória o que vivemos mas sim o que sabemos hoje daquilo que vivemos. E, muitas vezes, o que sabemos depois do tempo estraga-nos a memória. Ela fica pior mas é essa a verdadeira. Foi isso que aconteceu.


E daqui a um tempo vou perceber que o que estou a viver agora também é uma coisa diferente. E vocês também. Porque o tempo é o único que não nos engana.

Sem comentários:

Enviar um comentário