Várias semanas passadas sobre o início do espaço de comentário de José Sócrates na RTP, não resta qualquer dúvida sobre a linha programática do protagonista. A "narrativa" que Sócrates trazia para o programa ficou definida no primeiro dia e tem-se concretizado a cem por cento.
Nunca estive do lado dos que pretendiam impedir que o ex-primeiro-ministro tivesse um semanal de opinião na televisão pública. Sempre achei que essa era uma opção da direção de informação do canal, a qual tem (deve ter, pelo menos) autonomia para a tomar. Sócrates é um político importante, governou Portugal durante alguns anos, marcou um momento crítico do país, tem uma personalidade forte e controversa. Acima de tudo, teve um papel importante, bom ou mau, no nosso passado recente. A direção de informação da RTP tinha motivos para o querer em antena.
Agora, várias semanas depois, devo dizer que a direção de informação falhou na opção. O programa semanal de opinião de José Sócrates é escabroso!
Sócrates quer três coisas e isso não está escondido de quem o vê ao domingo. Primeiro, justificar a sua governação, que dificilmente se poderá considerar um sucesso, mas ele tenta. Depois, arrasar os que lhe impediram o PEC IV e lhe barraram o caminho para os resultados esplêndidos que ele permitiria. Por último, vingar-se de Cavaco Silva. Se mais tarde quiser mudar o foco para outros alvos, saberá aproveitar o espaço para o fazer, mas por agora é isto.
Ora, se era isto que a RTP queria, não percebo; se não era, enganou-se.
Cada domingo é um comício em direto, um político ativo e combativo camuflado de comentador, meia-hora de televisão que não acrescenta nada ao espectador, ao cidadão, ao país, um programa de opinião que é uma deslealdade para com os telespectadores e autêntica desinformação.
Que pena a Cristina Esteves ter saído isto na rifa!
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