sábado, 20 de março de 2010

É Eça mesmo

Sim, sou um aficcionado da obra de Eça de Queirós. Sim, considero Os Maias um dos grandes livros da minha vida - embora Os Maias seja a resposta pronta de quem não lê muito quando interrogado sobre livros, no meu caso não tenho medo de dar essa resposta. Sim, o meu exame final de Português do 12º ano foi sobre Os Maias. E, sim, sou capaz de reler com prazer todos os livros do Eça de Queirós. Desde a super história de Carlos da Maia e Maria Eduarda até à Cidade e as Serras, este menos corrosivo mas com um humor de grande nível e subtileza. E, claro, A Relíquia. Uma história notável, arrasadora da hipocrisia social e dos brandos costumes, que são afinal mais fundamentalistas do que brandos. Com A Relíquia, Eça não cria uma grande história, como faz nos Maias. Apresenta, pelo contrário, uma caminhada patética como patéticos são os seus intervenientes. E são os defeitos dessas pesonagens que as guiam para uma grande aventura. É uma viagem de fanatismo, mentira, hipocrisia, reveladora de instintos primários sufocados por uma capa social e religiosa, tão frágil quanto superficial. Olhamos para eles e rimo-nos, mas não teremos algures nas nossas vidas comportamentos e atitudes assim? É esta a força do humor queirosiano. As alegrias e as tragédias das personagens são provocadas por elas próprias, por aquilo que elas têm de condenável. São tipos sociais, dão a cara pelo ridículo de toda uma sociedade, de todo um país.

É esta obra que agora é levada à cena pelo Teatro Ibérico, numa adaptação de Filomena Oliveira e encenação de Onivaldo Dutra. A Relíquia transportada para o palco resulta numa comédia divertidíssima e numa sucessão de acontecimentos absolutamente delirante. São as vicissitudes de quem finge um papel que não é o seu e sobre quem a verdade pode desabar a qualquer momento como um estrondo e destruir todos os planos e ambições. E está lá tudo retratado, a fé de uma irracionalidade desmedida, o aproveitamento dessa fé para todos e quaisquer proveitos, a hipocrisia de não ser o que se parece e querer parecer o que não se é. A mentira, a traição, a ignorância e o desfile dos anseios mais primários estão todos lá e só estão porque Eça os decalcou da sociedade. E a sociedade, mudou muito desde o século XIX? Vale a pena pensar nisso ao assistir a este espectáculo. E o chico-espertismo não é uma moda do Portugal moderno? Se é, podemos bem olhar-nos ao espelho ao ver A Relíquia.

Os responsáveis por este espectáculo quiseram ser fiéis não só ao espírito da obra como também ao da época, com as dificuldades que isso traz, ainda para mais a uma produção independente. Quando não é possível ter a ambiência do século XIX ali toda em cima do palco, criou-se um simbolismo que a define.

Já agora, e porque esta reflexão foi feita em nome pessoal e independentemente das tentativas de promover o espectáculo - nas quais me empenharei nos próximos tempos, por considerar que o público que gosta de teatro, o que gosta de Eça de Queirós, o que gosta de cultura, merecem conhecer esta peça e devem vê-la - menciono aqui cada um dos elementos da equipa da Relíquia, com os quais tenho a alegria de poder trabalhar neste projecto que muito acarinho: Onivaldo Dutra - encenador; Marco Mascarenhas - director artístico do Teatro Ibérico; os colegas actores - Manuela Gomes, Naná Rebelo, Miguel Ferraria, Pedro Conde, Tânia Alves, João Almeida, Carlos Catarino e Sérgio Coragem; os técnicos de luz e som - Rita Almeida, Mário Inácio e Céu Neves; e o figurinista Paulo Miranda. E também todos os que de uma forma ou de outra deram e dão o seu apoio na realização desta aventura. Um forte abraço para todos! Vamos trabalhar! O público aguarda-nos.


quinta-feira, 18 de março de 2010

Um escândalo na família

Esta foi uma história que eu encontrei e que foi contada pelo Manuel Halpern numa das suas participações no Indigente da Antena 3. Não resisti a partilhá-la, gravando-a com a minha voz.

Singapura_Casamentos Conjuntos



Esta peça foi produzida no Curso de Televisão do Cenjor.
Autor: Carlos Alves
2009

quinta-feira, 11 de março de 2010

terça-feira, 9 de março de 2010

Mais sobre o PANCAKES

O PANCAKES SHOW já estreou a um mês e meio mas ainda temos outro tanto pela frente. Continuamos assiduamente no Teatro Ibérico todas as sextas e sábados, às 23h30. Não é um horário comum para se ver teatro, dir-me-ão. Pois não, e só por isso vale a pena arriscar. Porque não é comum. E ao fim-de-semana podem fazer-se coisas menos comuns. Temos vindo a produzir vídeos sobre o espectáculo, mas não podemos revelar muita coisa, porque só tem piada se for visto no bar do teatro. Vejam o vídeo e se ganharem curiosidade e vontade, vão ao teatro no próximo fim-de-semana. Contactos para reservas de bilhetes ou quaisquer informações, encontram-nos facilmente clicando aqui.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Óscares na TVI

A TVI tansmitiu mais uma vez a cerimónia de entrega dos Óscares, comentada por Vítor Moura e José Vieira Mendes. Optaram por dar primazia aos sons da festa, sem interrupções nem tradução. Pareceu-me uma boa opção. Não creio que fosse importante repetir em português as palavras dos intervenientes, ainda que por vezes se pudesse ter aproveitado certas pausas ou os aplausos para uma curta explicação do que se tinha dito e não ficar pelo comentário "foi um agradecimento original" ou outras referências assim, várias vezes repetidas, de forma algo inócua. O papel dos dois comentadores restringiu-se a preencher os pequenos intervalos ao longo da gala. E aí, pecaram por quase nunca acrescentarem mais valia à transmissão. Os comentários foram bastante redundantes e inconsequentes. Valeu a terceira intervenção, de Maria João Rosa, a partir de Los Angeles, que essa sim marcou a sua participação com informações e curiosidades apropriadas e relevantes para quem estava a acompanhar aquela noite. Foi uma boa aposta a integração deste terceiro elemento, que, sem dúvida, acrescentou valor à emissão portuguesa.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sinais de Fogo

Foi hoje para o ar o segundo programa de Miguel Sousa Tavares na SIC. Dando-se o respectivo benefício da dúvida à estreia na semana passada, agora já se podem tecer alguns comentários. Sousa Tavares apareceu hoje com mais bonomia na apresentação do programa, depois de no primeiro ter mostrado uma certa agressividade e rosto fechado, que, podendo combinar com um espaço de comentários num telejornal, não funciona quando se é pivot de uma emissão. Melhor, portanto, a primeira parte. Já a entrevista foi muito pior do que a da semana passada (com José Sócrates). O convidado, Gonçalo Amaral, mal teve tempo para falar e nem sei mesmo se chegou a terminar algum raciocínio. Da enrevista só me lembro das perguntas, das "teses", "crenças" e "opiniões" do entrevistador. Gonçalo Amaral, entre a limitação imposta pela providência cautelar a que está sujeito e as investidas de Sousa Tavares, limitou-se a contradizer o interlocutor mas dizer, não disse nada.
No final, já com o plano geral do estúdio mas antes do genérico entrar, ainda se ouviu Miguel Sousa Tavares lamentar que "25 minutos é curto". Até pode ser curto de tempo mas o papel do entrevistado é geri-lo e falar mais do que o entrevistado não ajuda.
O estilo do programa é interessante, directo, incisivo mas, exactamente por isso, exige um certo controlo para que não aconteça o que aconteceu esta noite e apareça mais ruído do que substância e esclarecimento.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Símbolo do tempo Perdido

O último livro de Dan Brown editado em Portugal, O Símbolo Perdido, é um romance fraquíssimo. Conhecendo o estilo, as temáticas e o volume de vendas de Brown, não haveria problema nenhum em esperar mais. Quando, há uns anos, li O Código da Vinci considerei-o um bom romance. Depois não li os que se seguiram e agora peguei no Símbolo Perdido. Devo dizer que fui até ao fim. Já que tinha começado, aceitei o sofrimento e quis saber como acabava. Mas foi sofrível. A narrativa é aborecidíssima e inconsequente. Apresenta um ou outro facto curioso mas que não compensam todas aquelas páginas de absoluta miséria dramática.
O nosso José Rodrigues dos Santos é muitas vezes referido como o Dan Brown português. A julgar por este romance, bem que Dan Brown podia ler os livros dele e ser ele o Rodrigues dos Santos americano. Fúria Divina, O Sétimo Selo, A Fórmula de Deus, qualquer um deles, Dan Brown, mete o Símbolo Perdido num saco...!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Uma Outra Educação

Este filme é um dos candidatos ao Óscar. Jenny é uma jovem à beira de completar 17 anos. Uma excelente aluna, cujas dificuldades em Latim são o único obstáculo na sua caminhada para chegar a Oxford. O latim é, ainda para mais, uma língua que daqui a 50 anos já nem os latinos vão falar, diz uma das personagens a dada altura. Jenny quer ir estudar literatura para Oxford mas os pais querem-no ainda mais do que ela. Numa tarde de chuva, Jenny encontra David, um homem mais velho, charmoso e carismático,amante de arte e dos meios culturais. Acaba por se apaixonar, pelo homem e pela vida que ele representa, a arte, a cultura, os concertos. Até os pais da rapariga ganham empatia e confiança em David, em prejuízo de um jovem pretendente e colega de Jenny. Mas o atencioso e cordial amante tem coisas a esconder e a jovem vem a descobri-lo quando já tinha abandonado tudo, nomeadamente o plano de ir para Oxford.
A força desta história está no facto de a protgonista se preparar para uma opção que não a satisfaz completamente (Oxford), encontrar uma alternativa que a faz feliz para depois perceber que essa felicidade está ameaçada e assente num vazio. Uma história de vida extraordinariamente bem contada, com uma simplicidade absolutamente refrescante e verdadeira. O drama da dinamarquesa Lone Scherfig escapa a todos os clichés deste género e serve-nos um realismo romântico sem qualquer queda nem desvario. Os actores são brilhantes na defesa dos personagens que interpretam e na verdade que lhes conferem. Carey Mulligan, a protagonista, de 24 anos, actriz de Orgulho e Preconceito, está nomeada para o Óscar de Melhor Actriz.

Aqui fica o trailer:

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Isto de uma pessoa se preocupar é uma merda

Acho que esgotei o meu stock de palavrões neste texto. Pelo menos até ao fim da década tenho o assunto arrumado.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Hoje há PANCAKES e assim...

O site da Ditirambus, com informações sobre o PANCAKES SHOW, tem tido muitas visitas nos últimos dias. É bom porque hoje há espectáculo. Vamos ver se a procura de informação se converte em muita gente no Teatro Ibérico, logo às 23h30, para fazermos uma grande "festa".

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Olhar para a programação do Teatro Ibérico, até Junho

O Teatro Ibérico está com dois bons espectáculos, a descobrir. Bem diferentes um do outro mas se foram escolhidos para estar lá são bons de certeza. SALOMÉ, uma peça de Oscar Wilde sobre o amor, o ódio e a vingança da sobrinha de Herodes por João Baptista. Um espectáculo de grande intensidade lírica e dramática. Termina dia 21. O outro, PANCAKES SHOW, já tem sido sobejamente falado neste blogue. É um espectáculo de teatro-bar, descontraído e com uma crítica clara ao mundo dos castings para televisão e aos seus intervenientes, no qual qualquer semelhança com a realidade ou algumas realidades não é mera coincidência.


E ainda um espectáculo infantil ao sábado, CHUVA DE CORES.



E vai ter Garcia Lorca, em Junho. Um semestre em grande estilo! Até porque antes, estreará A RELÍQUIA. Eça de Queirós, em Março. Saibam de tudo aqui.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Pinturas de paredes na Quinta do Lavrado

Entretanto, os actores da Ditirambus animaram uma manhã de pinturas na Quinta do Lavrado, Olaias, Lisboa.



Aqui fica um excerto da intervenção:



A Quinta do Lavrado é um bairro social integrado na freguesia lisboeta de São João. A Gebalis e as várias associações e instituições ali sedeadas têm levado a cabo um conjunto articulado e programado de iniciativas com vista a um melhoramento da qualidade de vida e do sentimento dos moradores em relação ao bairro. Pretende-se sempre incluir os habitantes nas actividades lançadas para promover as relações de vizinhança, por um lado, e o respeito pelas infraestruturas e pelo espaço público, por outro. A acção do passado sábado vem no seguimento deste programa e recaiu desta vez sobre a aparência exterior dos lotes de habitação. O objectivo foi convocar as pessoas para colaborar na pintura das paredes exteriores dos prédios. À Associação Teatral DITIRAMBUS coube o papel de chamar a atenção para a acção e os seus actores actuaram na rua, chamaram os moradores e alegraram a manhã, não deixando também de deitar a mão ao pincel. O trabalho ficou feito, a manhã foi divertida e o bairro ganhou um dia e uma cor diferentes.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

É já depois de amanhã

Faltam dois dias para o início do PANCAKES SHOW. Sexta-feira, vamos estar todos no Teatro Ibérico à vossa espera. É só entrar e ficar à vontade. Do resto tratamos nós. Entretanto, já dá para mostrar algumas fotos. E, por agora, só estas.