Participação no programa "Alô Portugal" da SIC Internacional, apresentado por José Figueiras. Convidada principal: Ana Campaniço.
terça-feira, 23 de junho de 2015
quarta-feira, 10 de junho de 2015
Comida Mastigada
Tudo o que é restaurante dito da moda confeciona
hambúrgueres. De carne, de atum, de salmão… pelo menos é o que eles dizem porque,
na verdade, eu não sei o que é que eles metem lá. Basicamente, a moda
transformou comida de fast food em
algo que é fixe comer. Agora, se queres ser moderno, come hambúrgueres. Não
importa que já tenham sido inventados há décadas, pois agora é que é um prato
moderno. As hamburguerias crescem como cogumelos, há hamburguerias em todo o
lado. Ainda na semana passada ia a andar na rua e de repente estava dentro de
uma hamburgueria. “E agora, como é que eu saio daqui? Isto é só copos de gin,
nem consigo ver a saída”. E estavam lá as pessoas a comer hambúrgueres a pensar
que se estavam a alimentar.
Fazem um hambúrguer com cinquenta gramas de qualquer coisa e
os clientes pagam como se tivessem comido um bife de quarto de quilo. E ainda
saem felizes e sorridentes, ciosos do modernismo que acabaram de cometer.
É assim que isto funciona. É claro que ingerir um balde de
gin tónico antes de comer o hambúrguer ajuda muito. Depois de meio litro de gin
com água, gelo e serpentinas qualquer coisa parece fixe. Até um rato no espeto
servia. Porque o que importa é ser moderno, mastigar carne moída e citar Pedro
Chagas Freitas. Não importa o conteúdo, o que interessa é a forma. E se a forma
vier descrita na Time Out é porque é fixe.
A praga das hamburguerias é de tal modo que qualquer dia
queremos comer comida e não há. Só em casa e às escondidas, porque comer carne
é coisa do século passado. Temos uma sociedade habituada a comida mastigada,
por isso é que agora gosta tanto de hambúrgueres. O hambúrguer representa
perfeitamente tudo o que somos enquanto sociedade. Não se veem filmes em que
seja preciso pensar um bocadinho, lêem-se livros que, na primeira página já se
percebe como é a última, procura-se teatro que nos trata como estúpidos que não
conseguem ir mais além, por isso fazem-se coisas simples para que as pessoas
percebam, nas telenovelas não se arrisca muito porque o público tem sempre de
levar com as mesmas histórias, as mesmas músicas, as mesmas caras… Tudo isto
são hambúrgueres de uma cultura fast food.
E como todo o fast food, esta cultura
só serve para ser defecada.
Mas a diarreias mentais estamos todos habituados.
E eu vou comer alguma coisa, ver se consigo que me façam uma
sandes de queijo que seja mesmo com queijo. Porque pode ser moda meter-lhe
rúcula e escamas de robalo e eu não li a Time Out este mês. Gostava que fosse mesmo só com
queijo. Sem uma estrela desenhada. O pão podia ser mesmo de trigo, sem salsa nem casacas de amendoim. Vamos ver!
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