Conhece o leitor, com certeza, aqueles autocolantes que se colam no
vidro traseiro dos automóveis, que têm escrito “bebé a bordo”. Pergunto então quantos dos carros que hoje apresentam esse
autocolante levam na verdade um bebé a bordo. Poucos. Eu aposto que são poucos.
E a maior parte não leva e já há muitos anos. Por esta altura, já o dito bebé,
que levou à afixação do tal autocolante, tem os dentes definitivos podres do
tabaco ou está já divorciado ou é apenas mais um desgraçado obrigado a
trabalhar numa empresa na qual vai emburrecendo a cada dia que passa. É um desses, afinal, o destino de cerca de noventa por cento dos
bebés a bordo que circularam por essas rodovias fora. Dir-me-ão que qualquer um
deles é melhor do que falecer esmigalhado num acidente. E eu
concordo. Não sei é se foi o autocolante que impediu esse acidente ou se foi o mero acaso. Grande maioria dos condutores nem vê o carro que tem à frente
quanto mais o autocolante colado na parte inferior do vidro!
Há autocolantes do bebé a bordo já descolorados pelo sol;
alguns estão em carros que já nem pertencem ao mesmo dono. Ainda ontem vi uma
miúda de pouco mais do que 18 anos, conduzindo certamente o seu primeiro carro,
com o “bebé a bordo” atrás. Mas qual a bebé! O mais próximo que aquela rapariga
deve ter estado de perder a virgindade foi quando roçou sem querer no manípulo
das velocidades. Porém, o bebé a bordo é algo que se cola e fica para sempre,
como um falso alarme que os nossos carros emitem a cada momento.
Vou abrandar que vai ali um bebé a bordo. Ah, não vai nada,
é um velho ao volante, vou acelerar e partir-lhe a traseira, que se lixe!
O “bebé a bordo” é a maior falcatrua do sistema rodoviário
nacional e ninguém faz nada para a travar. Uma fraude muito superior à das
gordas que se fazem passar por grávidas nas filas dos supermercados.
Sem comentários:
Enviar um comentário